AS SENTENCAS COM "É RUIM QUE" NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
“É ruim que”; sentença copular comum; sentença copular de negação; Português Brasileiro.
Ancorados em trabalhos sobre a estrutura das sentenças copulares no Português Brasileiro (PB), no quadro da teoria da gramática, analisamos nesta dissertação as sentenças copulares complexas encabeçadas pela estrutura “é ruim que” no PB, defendendo a hipótese de que elas podem ter uma leitura predicacional – PRED – ou especificacional – ESP. Nas estruturas com “é ruim que” PRED, o constituinte “ruim”, como em qualquer sentença copular comum, é o predicador de uma Small Clause e insere ampla predicação sobre todo o sujeito, que se realiza no CP encaixado; nas com “é ruim que” ESP há uma expressão cristalizada. Revela-se que, apesar de serem superficialmente idênticas, a estrutura dessas sentenças, para que as distintas leituras sejam acionadas, é distinta: nas PRED, o “ruim” nasce como predicador da Small Clause, sem passar por qualquer tipo de movimento; nas ESP, a expressão cristalizada é fruto do movimento sofrido de uma posição interna ao IP pleno da sentença neutra, que deu origem à versão copular, para a posição SpecCP. Além da forma como o constituinte “ruim” ou a expressão cristalizada “é ruim” são realizados nas diferentes estruturas com “é ruim que”, mostraremos que a relação interna entre os verbos cópula e principal também é fundamental para distinguir um e outro tipo de estrutura. Quando a estrutura é uma sentença copular comum, o modo da cópula deve ser o indicativo, enquanto o do verbo principal, o subjuntivo, impreterivelmente; o tempo de um e de outro pode, de acordo com a estrutura, ser variável. Sendo a sentença copular de negação, a exigência é de que ambos os verbos apareçam no modo indicativo, podendo o verbo principal ser flexionado em tempo, mas devendo a cópula ser realizada, unicamente, na terceira pessoa do presente do indicativo, o que confirma nossa análise de que “é ruim” dessa estrutura configura uma expressão cristalizada, e não dois constituintes distintos. Defendemos, portanto, que as sentenças com “é ruim que” no PB podem ser: (i) sentenças copulares comuns, de leitura PRED, quando o “ruim” estabelece predicação ampla sobre o CP sujeito e é concatenado à Small Clause; e (ii) sentenças copulares de negação, de leitura ESP, nas quais a expressão cristalizada “é ruim” tem escopo estreito sobre um vestígio que recai na semântica do IP.