Construções com o verbo ser: uma abordagem centrada no uso
Verbo ser. Linguística Funcional Centrada no Uso. Gramática de Construções. Descrição do português.
Neste trabalho, examinamos construções com o verbo ser no continuum léxico-gramática. Até o momento, grande parte do material disponível e das pesquisas já empreendidas e consultadas enfatiza, sobretudo, a análise do processo de gramaticalização desse verbo e o classifica, de um ponto de vista apenas morfossintático, como o representante mais geral dos verbos de ligação ou como um verbo auxiliar, semanticamente desbotado e com valor procedural. Entretanto, ocorrências com o verbo serrevelam um processo de variação em seus usos. Nesse sentido, busca-se analisar padrões construcionais instanciados por esse verbo na atualidade, considerando sua multiplicidade semântica bem como aspectos cognitivos e interacionaisneles implicados. A análise proposta tem natureza quali-quantitativa e se fundamenta na Linguística Funcional Centrada no Uso, que conjuga a tradição funcionalista norte-americana, representada por pesquisadores como Talmy Givón, Paul Hopper, Joan Bybee, Elizabeth Closs-Traugott, com a Linguística Cognitiva, em especial, a corrente vinculada à Gramática de Construções, conforme postulada por Adele Goldberg, William Croft, Jan-Olla Östman, entre outros. Os dados advêm de textos reais extraídos do Corpus Discurso & Gramática(Corpus D&G), em sua modalidade escrita, do Banco Conversacional de Natal (BCN) e de canções coletadas na internet. Resultados parciais indicam que os padrões construcionais do verbo ser evidenciam um deslizamento que vai, em um continuum, de verbo pleno a verbo procedural, havendo ainda ocorrências em (micro)construções das parcialmente especificadas e flexíveis às mais idiossincráticas. Ratifica-se, nesse sentido, a relevância da interface entre os aspectos formais e funcionais na análise dos usos linguísticos.