Linguística do Texto. Análise textual dos Discursos. Semântica do texto. Representação discursiva. Figura feminina. Jornal O PORVIR.
RESUMO
A tese apresenta um estudo cujo objeto são as representações discursivas. O objetivo geral é examinar as representações discursivas da figura feminina em textos do jornal O PORVIR (Currais Novos / Rio Grande do Norte – 1926 / 1929). Os objetivos específicos são: (1) identificar, descrever e interpretar as representações discursivas da figura feminina em textos do jornal O PORVIR (Currais Novos / Rio Grande do Norte – 1926 / 1929); (2) discutir avanços teóricos e metodológicos possibilitados pelas análises realizadas. Do ponto de vista teórico, ancora-se na Linguística Textual (FÁVERO; KOCH,1998; KOCH, 1998; 2001; 2004; 2013; KOCH; TRAVAGLIA, 1997; BENTES, 2001; MARCUSCHI, 2008, 2009), no quadro geral da Análise Textual dos Discursos – ATD (ADAM, 2011; 2015), com foco na noção de representação discursiva (ADAM, 2011; GRIZE, 1990; 1996; 1997; RODRIGUES; PASSEGGI; SILVA NETO, 2010). A noção de representação discursiva é entendida como uma das principais noções utilizadas pela ATD para análise do nível semântico do texto. A metodologia se configura como uma pesquisa documental, de métodos mistos, com uma estratégia de investigação concomitante (CRESWELL; PLANO CLARK, 2007; CRESWELL, 2010), visando reunir dados quantitativos e qualitativos e integrá-los, para uma análise mais robusta dos dados. O corpus se constituiu de 39 textos, selecionados no jornal O PORVIR (Currais Novos / Rio Grande do Norte – 1926 / 1929). Para a análise das representações discursivas da figura feminina, foram utilizadas categorias específicas, quais sejam: referenciação, modificação da referenciação, predicação, modificação da predicação, localização espacial, localização temporal, analogia e conexão (ADAM, 2011; GRIZE, 1990; 1996; 1997; RODRIGUES; PASSEGGI; SILVA NETO, 2010). A figura feminina é um participante essencial dos assuntos tratados nos textos do jornal O PORVIR (Currais Novos / Rio Grande do Norte – 1926 / 1929). A análise apresentada ainda é preliminar, mas já depreende resultados que indicam algumas representações discursivas básicas mais gerais, que se organizam no âmbito da vida familiar, vinculadas aos espaços domésticos. Nesse contexto, a figura feminina foi designada como mãe e mulher. Essas representações discursivas mais gerais se desdobram, ao logo do texto, em representações discursivas mais específicas. Atua de forma relevante nesse processo o modificador do referente. Na construção da representação discursiva da figura feminina como mãe, tem singular relevância o modificador do referente sublime. Esse modificador aciona qualidades que, somadas a designação de mãe, reconstroem a representação discursiva da figura feminina como mãe sublime. Predicados de estado também permitem depreender representações discursivas da figura feminina, nesse caso, a partir da designação do referente figura feminina como mulher. Essas predicações reconstroem duas representações discursivas da figura feminina designada como mulher: (1) a obra mais perfeita da criação (2) um bichinho que fala como periquito. A representação discursiva a obra mais perfeita da criação é complementa, com o auxílio do marcador de conexão porém, pela informação de que a mulher já tem historicamente constituído determinados ofícios profissionais específicos, os quais são inerentes a espécie, a saber: as preocupações do lar. O exposto permite inferir uma série de representações discursivas da figura feminina seguindo mais ou menos o mesmo campo semântico: mulher do lar, mãe, esposa, responsável pelos cuidados com a família, com os filhos, com o marido. Aos papéis semânticos de mãe sublime e mulher como obra mais perfeita da criação se contrapõe a representação discursiva da mulher como um bichinho que fala como periquito. Essa representação discursiva articula-se estreitamente ao comportamento da mulher e, por meio da comparação, é perspectivada como uma representação discursiva negativa, como uma pessoa que fala muito, portanto, considerada inconveniente para atuação em determinadas áreas da vida em sociedade, como a política, por exemplo. A partir do que está textualizado, é possível inferir que há uma representação discursiva positiva da figura feminina nos espaços da vida familiar, no lar, como responsável pelas atividades oriundas desse ambiente. No entanto, o processo de tornar-se diferente do que está estabelecido socialmente, resulta uma representação discursiva negativa. Esse conjunto de designações e redesignações constrói e reconstrói representações discursivas da figura feminina no jornal O PORVIR (Currais Novos / Rio Grande do Norte – 1926 / 1929) com papéis semânticos diferentes: mãe sublime, a obra mais perfeita da criação, e um bichinho que fala como um periquito, que permite passar de representações positivas a uma representação negativa, expressando uma visão preconceituosa de que a mulher está resignada aos afazeres domésticos e não se adéqua como agente nas demais esferas da vida em sociedade.