O DESVELAR DA IDENTIDADE SERTANEJA NA PROSA DE ‘OS SERTÕES’
Os Sertões; literatura e etnografia; história do Brasil; memória cultural; ideologia.
Dentre tantas alterações relevantes vivenciadas na história do Brasil, a
transição da monarquia para república está entre as que mais abarcaram progressos,
incluindo a construção de sua nacionalidade, até então esparsa e confusa. Sob influência
da ideologia Positivista, desenvolvida por Augusto Comte e remodelada aos interesses
dos militares, o período da primeira República brasileira foi marcado pelo conflito
por delimitação de poder, situação essa previsível desde a ruptura entre os partidos
republicanos, paulista e mineiro, com aqueles que ajudaram na instauração do novo
modelo governamental. Em retaliação, o exército, que saiu prejudicado nesse acordo,
demonstra seu poderio em situações aparentemente propícias: Canudos aparece como
oportunidade para os fins políticos dos militares. A disparidade de armamentos contra
o arraial formado por Antonio Conselheiro só não chamou mais a atenção do que a
resistência imprevisível daqueles sertanejos. Dignos da eternidade no imaginário popular,
os canudienses viraram um dos focos da escrita de Euclides da Cunha em Os Sertões; em
O Homem, segundo capítulo do livro, o autor descreve a “raça” forte se apropriando da
linguagem cientificista, cultuada na época de sua produção pelo “homens de sciencia”,
explorando aspectos físicos, psicológicos, culturais pautando-se nas justificativas
evidenciadas na primeira parte do livro, A terra, sob a lógica determinista da ação da
natureza sobre a formação humana. Aliando a percepção crítica da obra literária ao
exame da forma e o processo social de onde ela se origina, busca-se neste trabalho
explorar a figura desenvolvida e divulgada do sertanejo como objeto de denúncia por
Euclides da Cunha às demais regiões do Brasil.