Desigualdades persistentes em uma cidade que pretende ser inteligente e humana
Natal Cidade Inteligente e Humana, ambiente construído, estruturas de oportunidades tecnológicas, economia local, desigualdade socioespacial.
O planejamento urbano historicamente passou por diferentes compreensões que modificaram a forma de perceber e planejar as cidades. Atualmente, se destaca na agenda pública brasileira o paradigma inteligente, que se materializa em projetos urbanos como os de cidade inteligente e humana. Ligado à questão da inovação urbana e tecnológica, o paradigma promete ser instrumento de modernização, crescimento inclusivo e sustentável, melhorando a qualidade de vida das pessoas pelo intenso uso de infraestruturas inteligentes a fim de aprimorar os serviços da cidade, otimizando seus recursos. Nesse sentido, identificando as iniciativas públicas em inovação urbana e tecnológica no âmbito dos investimentos em cidades inteligentes e humanas, a tese objetiva analisar as mudanças e/ou permanências nas atividades humanas (educação, saúde, assistência, desenvolvimento econômico etc.) e nas desigualdades com o incremento de infraestruturas tecnológicas no ambiente construído. Para tanto, é realizada, metodologicamente, uma microanálise histórica com base no estudo empírico da cidade de Natal/RN. O referido município aderiu ao modelo inteligente e humano por meio do Projeto ‘Natal cidade inteligente e humana’. Para atingir os objetivos traçados, a investigação persegue três categorias de análises, a saber: a) a formação da agenda pública na proposta inteligente; b) a influência do paradigma na estrutura espacial do ambiente construído (implantação de infraestruturas etc.) e na oferta dos serviços públicos (governo digital); c) o desenvolvimento socioeconômico local. Os procedimentos metodológicos acessados são em sua maior parte qualitativos, principalmente quando controvertem as declarações, juízos e expectativas referentes ao conjunto dos achados que envolvem os atores sociais do ecossistema de inovação da quádrupla hélice (governo, academia, mercado e população). Para cada grupo de atores entrevistados (à exceção da população) há um fio condutor norteando entrevistas semiestruturadas que abordam questões sobre: ‘formação da agenda pública’; ‘política pública de infraestrutura tecnológica’; ‘mercado e economia local’; ‘serviços públicos, infraestruturas tecnológicas e atendimento ao cidadão’ e; ‘cidade inteligente e humana no planejamento plurianual municipal’. Problematizando o planejamento urbano dependente do intenso uso de infraestruturas tecnológicas (infovias, parques tecnológicos, telemática etc.) e da Inteligência Artificial – IA (smartphone, notebook, computadores etc.) no contexto das desigualdades comuns em países periféricos, a pesquisa questiona: como a política pública em Natal em torno do paradigma inteligente e humano reproduz as desigualdades de acesso às oportunidades via estruturação do ambiente construído? A Tese avalia que a política pública de cidade inteligente e humana reforça as desigualdades socioespaciais que são evidenciadas no ambiente construído na cidade de Natal, em um cenário que não inclui a população mais pobre, não alcançando a inclusão prometida pelo referido paradigma.