TERRITÓRIOS DE CONFLITO: ESPECULAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E TRAVESSIA DE PARQUES EÓLICOS EM COMUNIDADES RURAIS DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSOS/RN
energia eólica, conflitos, território, territorialidades, poder simbólico.
O setor eólico vem ganhando destaque nos cenários internacional e nacional, amplamente justificado como mecanismo de enfrentamento das crises ambientais e energéticas. Em âmbito nacional o Estado, através do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas – PROINFA, em 2002, foi o responsável por esse fomento. Ainda que as mídias, os agentes institucionais e empresariais afirmem uma contribuição ambiental positiva relacionada, especialmente, à baixa emissão de gases poluentes e da eventual geração de empregos, a chegada das eólicas têm engendrado uma série de conflitos nos territórios. Nesse sentido, a revisão de literatura evidencia que a interação entre as eólicas e as comunidades, tem gerado disputas que expressam diferentes formas de significação e apropriação do espaço, incidindo sobre seu uso e os modos de vida das comunidades. Desse modo, se faz importante questionar que tipos de conflitos são gerados pela energia eólica e que estratégias são acionadas nessa disputa, partindo de uma combinação analítica entre território, poder e conflito associada a uma perspectiva ambiental integradora, que não dissocia o ambiental do social. Diante disso, o objetivo geral é analisar os conflitos gerados pela energia eólica em comunidades de São Miguel do Gostoso, partindo de uma abordagem territorial e ambiental à luz da dimensão do poder. Analisar São Miguel do Gostoso se mostrou pertinente uma vez que se trata de uma região com intensa densidade de parques eólicos instalados e ainda em vias de construção de novos empreendimentos. Para isso, se desenvolveu um desenho metodológico de caráter qualitativo, ancorado na análise de conteúdo de documentos e de entrevistas semiestruturadas com lideranças comunitárias. Através da metodologia, a pesquisa procurou identificar os atores e realizar uma tipologia do conflito, analisando os dissensos construídos e as estratégias de enfrentamento e/ou negociação acionadas pelas comunidades. Os resultados mostram que os conflitos existentes são oriundos das diferentes formas de interação do setor eólico nos territórios, seja na fase de especulação, de implementação ou na travessia dos parques eólicos nessas comunidades, de modo que foram identificadas dimensões ambientais e territoriais diretamente vinculadas às formas de apropriação do território, gerando disputas de poder e reconfiguração de territorialidades locais.