SABER-FAZER TRAMAS E RESISTÊNCIAS DE MULHERES NA CASA DAS BORDADEIRAS EM TIMBAÚBA DOS BATISTAS/RN: OLHARES SOBRE GÊNERO, TRABALHO E RENDA E IDENTIDADE REGIONAL
Palavras-chave: Bordado; Renda; Identidade Regional; Desenvolvimento Territorial.
RESUMO:
O bordado seridoense é um ofício secular, trazido durante a colonização portuguesa, com forte influência da Ilha da Madeira, e disseminado entre as mulheres da região por meio de uma educação para o lar. Durante o século XX, a vocação têxtil do Seridó foi aflorada e passou por transformações, tendo sua crise a partir da década de 1980, ocasionando forte êxodo da região, seguida de uma reestruturação das bases produtivas com a criação de chapelarias, facções, malharias, tecelagens de redes, dentre outros. Na última década, o bordado vem passando por transformações no modelo produtivo, saindo de um contexto tradicional para alcançar o mercado hegemônico da moda globalizada. O presente estudo tem como objetivo geral refletir sobre o modelo produtivo e as intersecções de gênero, desenvolvimento e decolonialidade, a partir do estudo de caso das histórias de vida das bordadeiras e suas trajetórias na Casa das Bordadeiras, em Timbaúba dos Batistas, no território do Seridó Potiguar. Como pergunta de partida, busca-se questionar qual a importância social e econômica da atividade do bordado para proporcionar renda para as mulheres da região. Como procedimentos metodológicos, a pesquisa contou com a aplicação de questionário virtual estruturado, para identificar o perfil das bordadeiras, além da realização de uma oficina, utilizando-se de estratégias e metodologias participativas, sendo que uma amostra de 55% das bordadeiras participou de entrevistas semiestruturadas e narraram suas histórias de vida. Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com representantes envolvidos no setor produtivo do artesanato no RN. Constatou-se que das participantes da pesquisa, 65% delas possui renda de até 1 salário mínimo, mesmo acumulando duas ou mais jornadas de trabalho, com carga horária de até 12h diárias, com ausência de contratos e formalização. Os resultados indicam a Casa das Bordadeiras como um território vivido e de resistência, elemento essencial para uma discussão de Políticas de Desenvolvimento Territorial numa perspectiva contra hegemônica, que considerem o bordado como patrimônio cultural, a partir do fortalecimento da identidade regional, do selo de indicação geográfica recém conquistado, para driblar o êxodo da região e garantir trabalho e renda.