ESPAÇOS CONCEBIDOS, SENTIDOS DE LUGAR: BRANCOS NA FORMAÇÃO SOCIAL DA RIBEIRA SERIDÓ (SÉCULOS XVIII-XIX)
O presente estudo investiga o processo de formação social da Ribeira do Seridó ao longo dos séculos XVIII e meados do século XIX. Essa análise interpretativa da Ribeira do Seridó ocorreu fundamentada nos conceitos de espaço concebido do filósofo francês Henry Lefebvre e dos conceitos de lugar, lugaridade e ausência-de-lugaridade do geógrafo inglês Edward Relph. O diálogo construído nesse texto entre os estudos de Lefebvre e de Relph, em consonância com uma interpretação fenomenológica das ações do ser em suas vivências diárias, em uma perspectiva heideggeriana, ofereceram o suporte teórico necessário para a análise da formação espacial da Ribeira do Seridó ao longo do tempo. Em diálogo com isso, esse estudo examinou a composição social da Ribeira do Seridó, no que se refere à qualidade/cor dos indivíduos que construíram o espaço concebido da Ribeira do Seridó e atribuíram sentidos de lugar a esse mesmo espaço. Nesse texto, houve a preocupação de entender historicamente como descendentes de mestiços, como pardos, por exemplo, eram definidos como brancos e os sentidos do ser branco na sociedade colonial e imperial da Ribeira do Seridó, entendendo as especificidades da categoria social branco em uma realidade marcada pelos processos de colonização e mestiçagens. Assim, o conceito de qualidade/cor e condição também foram pertinentes nesse estudo. Em termos documentais, essa pesquisa teve como fundamento fontes paroquiais (registros de batismo, matrimônio e óbito), judiciais (inventários post-mortem e cartas de alforrias) e administrativas, como os mapas populacionais, referentes ao recorte espaço-temporal citado e que foram examinadas através de um cruzamento de dados e das metodologias quantitativa, serial, qualitativa, onomástica e indiciária. Por fim, essa pesquisa possibilita preencher lacunas historiográficas acerca dos sentidos de lugar constituídos na sociedade colonial e imperial da Ribeira do Seridó, bem como sobre a compreensão histórica da categoria branca, evidenciando que o branco é uma construção social, histórica, relacional e situacional, sendo o branco dos sertões do Seridó um branco-não-branco propriamente, mas sim um branco-mestiço.