A MÍSTICA DO CATIMBÓ-JUREMA REPRESENTADA NA PALAVRA,
NO TEMPO E NO ESPAÇO
Catimbó-jurema; Espacialidades; Sistema mágico-religioso; Imaginário.
O catimbó-jurema é uma manifestação religiosa, cujas origens estariam relacionadas aos grupos indígenas que um dia habitaram o Nordeste brasileiro. As pesquisas sobre esta modalidade religiosa vêm sendo documentadas há mais de 80 anos. Com intuito de contribuir com as discussões sobre a temática, que ainda são relativamente escassas, este trabalho revisita algumas obras consideradas “clássicas” com objetivo de perceber os arranjos que o catimbó apresentava nas décadas de 1920/30, momento em que as pesquisas de Andrade, Bastide e Cascudo foram realizadas. O exercício de revisão bibliográfica ao qual nos propomos, será um suporte interessante para compreendermos alguns dos mecanismos agenciados pelos adeptos dessa religião para a (re)atualização do seu sistema de crença. Um dos pilares do catimbó está pautado na concepção de que o mundo do além possui “cidades encantadas”, descritas pelos juremeiros como lugares místicos e imaginários habitados pelos senhores mestres, caboclos, reis e seres encantados. Essas “cidades” possuem organização e topografia semelhante as deste mundo. A cosmogonia juremeira acerca destes espaços é complexa pois contempla uma série de representações imagético-discursivas forjadas pelos grupos indígenas nordestinos e reproduzidas pelos adeptos do catimbó no decorrer de sua formação enquanto religião. Tendo como base os discursos dos juremeiros, traçaremos uma análise sobre a construção imaginária e imaginada desses espaços, com intuito de apresentar ao leitor, uma “geografia do sobrenatural” das espacialidades do catimbó. Várias expressões referentes a liturgia e a cosmovisão juremeira carregam consigo noções espacializantes e metáforas espaciais usadas no cotidiano religioso: “direita-esquerda”, “cima-baixo”, dentre outras. Estas atuam de maneira profícua no sentido de auxiliarem na produção de dizibilidades e visibilidades dos espaços materiais e imateriais. Neste exercício de construção de espacialidades, o corpo humano tornou-se referência, “o homem é a medida”, ressalta Yi-Fu Tuan.