CONSTITUIÇÕES DO ROSÁRIO: Compromissos de Irmandades Negras em Recife, Goiana e Olinda (1782-1786)
Irmandades, Compromissos, Religiosidade, Escravidão
Pernambuco no século XVIII era uma capitania que apresentava importantes desigualdades regionais. As vilas mais próximas do porto do Recife, localizadas na costa, possuíam maior importância política e econômica do que aquelas que se localizavam nos sertões. O escravismo e a proeminência da religião católica eram elementos que compunham a sociedade. Em muitas vilas da capitania, independente de sua condição, formaram-se Irmandades do Rosário dos Pretos, talvez o único tipo de associação permitido aos negros no espaço colonial. Destas, escolhemos três, as constituídas em Recife, Goiana e Olinda, todas situadas em vilas na área geográfica onde se insere a mata tropical. Estudamos os Compromissos daquelas irmandades, elaborados no final do século XVIII, buscando entender como aquelas confrarias funcionavam. Além dos estatutos daquelas irmandades, a análise do Compromisso do Rosário mais antigo até hoje, o da irmandade de Lisboa (1565), ajudou-nos a compreender algumas especificidades das irmandades pernambucanas. Outra preocupação que nos norteou, foi a definição do gentilismo no âmbito das irmandades. Finalmente, procuramos analisar os processos de confirmação dos Compromissos do século XVIII. Estes estatutos davam as irmandades a condição de ter um espaço definido na trama social. A sua análise ajudou-nos a perceber os movimentos dos confrades nas atividades privadas e, da mesma forma, nas públicas, procurando perceber a construção de uma identidade ou de identidades culturais entre a população de ascendência africana em Recife, Goiana e Olinda por intermédio dos ritos praticados por eles nos espaços de circulação que a norma lhes permitia, no final do século XVIII.