Santo de casa “faz” milagre: Luís da Câmara Cascudo, o padroeiro literário da cidade de Natal.
Luís da Câmara Cascudo. Casa. Espaços. Biografia. Memória
Partindo do pressuposto teórico de que o sujeito é uma obra de rascunho em permanente “invenção”, os textos biográficos, as memórias escritas por Luís da Câmara Cascudo, entre os anos de 1967 e 1969, foram lidas como parte de uma estratégia discursiva montada pelo memorialista potiguar de construção de uma imagem de si profundamente ligada ao espaço da casa, a qual colaborou decisivamente para que o “professor e pesquisador de província”, após o anúncio da sua aposentadoria oficial, em 1968, fosse reverenciado na cidade onde nasceu como o santo de casa que “faz” milagre, se tornando, ainda em vida, o padroeiro literário da cidade de Natal. Seguindo uma ordem cronológica, que também é lógica, nós iniciamos o nosso trabalho com uma leitura sobre o modo como o memorialista potiguar selecionou, ordenou e espacializou as suas memórias da infância; problematizando, no capítulo seguinte, os significados atribuídos por Câmara Cascudo a casa no Tirol, transformada em “Principado do Tirol” pelo “jovem” príncipe Cascudinho; finalizando com as memórias do “velho professor aposentado” com o propósito de pensarmos o processo de sacralização da casa onde o “mestre” Cascudo morou quase quarenta anos de sua vida e produziu grande parte de sua obra, elegendo-a como monumento à sua memória, como a sua própria encarnação, como garantia de sua eternidade e perenidade, como seu santuário e lugar de adoração, o que vem sendo garantido pelas ações que, ainda hoje, a institucionalizam como sendo o seu espaço sagrado.