ESPELHO CLARÍSSIMO DA BONDADE DE DEUS: O MUNDO NAS DUAS VITAS DE TOMÁS CELANO
Minoritismo, Hagiografia, Mundo, Ascese Intramundana.
O objetivo desse trabalho é perceber a versão de Francisco de Assis criada por Tomás de Celano em suas obras hagiográficas, para, a partir disso, entender como a Ordem e o Papado compreenderam a relação do cristão com o mundo e transformaram essa compreensão em uma versão de São Francisco. Fatores como a substituição do Neoplatonismo pelo Aristotelismo como paradigma filosófico e alterações econômicas e sociais contribuíram para alterar a interpretação da palavra “mundo” nas Escrituras, não mais interpretada como materialidade, mas como uma ordem para o cristão fugir do pecado. O desprezo pelo mundo foi substituído por um maior apreço pela natureza e pela sociedade. Além disso, cada vez mais, o corpo passou de inimigo a amigo, tornado-se o irmão corpo. Tal análise é importante para rever a idéia, tão comum na historiografia, de que o que Max Weber chamou de Ascese Intramundana, a vida cristã vivida em sociedade, só surgiu no Protestantismo, em oposição ao Monasticismo. As Ordens Mendicantes, sobretudo a Ordem dos Frades Menores, tentaram, durante o século XIII, período de análise desse trabalho, vivenciar o Cristianismo amando a natureza e agindo, por meio da evangelização e da caridade, nas cidades. Para fazer esse trabalho, foram analisados os discursos hagiográficos (sobre São Francisco) feitos por Tomás de Celano, Memoriale in desiderio anime (chamada de Vita Prima) e Vita beati Francisci (chamada de Vita Secunda) para, a partir disso, entender a interpretação de Celano de como deve ser a relação do cristão com o mundo. O mundo deixou de ser um reflexo distorcido de uma realidade perfeita, passando a ser reflexo perfeito do Criador.