Do ancoradouro à sala de espera: as obras de melhoramento do porto e a construção de uma Natal moderna (1893-1913)
Porto; Natal; Modernização; Regime Republicano.
Durante o século XIX foi constante no discurso dos administradores locais norte-rio-grandenses o pedido de verba ao Poder Central para as obras de melhoramento do Porto de Natal. O Porto da Capital, principal via de comunicação do Rio Grande do Norte, vinha, devido às limitações que o acompanhavam como as dunas que cercavam a cidade, espalhando areia no leito do rio, além disso, os vários recifes situados ao longo do litoral, não permitia a entrada em seu ancoradouro de navios de maior porte. Essas dificuldades trouxeram grandes problemas à província, que não conseguia realizar o escoamento da produção oriunda do interior, ocasionando, no cenário político norte-rio-grandense, o questionamento da posição de centralidade de Natal na província. Somente no Regime Republicano fora aprovado o crédito pelo Governo Federal para as obras de melhoramento do porto. O porto então se tornou no discurso político Republicano Potiguar uma das principais promessas para trazer o “progresso” às terras potiguares, sendo colocado como uma questão central da qual dependeria o “futuro” do Estado. Desta maneira, o objetivo deste trabalho é analisar o surgimento de uma nova noção de Porto nos discursos e intervenções dos grupos dirigentes locais no começo do século XX. Buscamos analisar a emergência de uma noção moderna de Porto, marcada pelo esforço de organização, racionalização, regulamentação das atividades portuárias pelo Estado e a nova relação assumida pelo porto frente à cidade decorrente dessa nova percepção. O Porto se tornou para os grupos dirigentes locais a “sala de espera” da capital, sendo necessário alterar parte da composição do espaço urbano para integrar o Porto à cidade. O Porto de Natal passou a ser dotado de uma função pedagógica, incorporando no tecido urbano, códigos, valores e práticas consideradas pelos administradores locais como modernas e civilizadas. Esse novo espaço da cidade, considerado sua “sala de espera”, provocou conflitos entre os grupos dirigentes locais e figuras influentes no campo político Potiguar, que almejavam se favorecer com o processo de organização do porto, frente às figuras consideradas indesejáveis na cidade, vistas como um empecilho à imagem de progresso e modernidade que os grupos dominantes pretendiam expor pelo Porto.