O ETNOCONHECIMENTO E A CONSERVAÇÃO DE SEMENTES CRIOULAS NO ESTADO RIO GRANDE DO NORTE: (RE)EXISTÊNCIAS E ANCESTRALIDADES
Sementes crioulas; Saberes tradicionais; Autonomia camponesa; Resistência cultural.
A valorização dos conhecimentos tradicionais tem sido apontada pela literatura como um caminho estratégico para a promoção da sustentabilidade. Nesse contexto destacam-se as práticas de conservação de sementes crioulas, consideradas essenciais para a reprodução social das populações tradicionais e para a conservação ambiental. O presente estudo tem como objetivo investigar os saberes tradicionais envolvidos na conservação das sementes crioulas em sete Territórios da Cidadania do Rio Grande do Norte. Para tanto, em sua primeira parte, foi realizada revisão sistemática da literatura sobre sementes crioulas, com o objetivo de identificar os elementos predominantes na produção acadêmica sobre o tema; em seguida, foram apresentados os resultados de pesquisa de campo, realizada como parte do projeto Em busca das sementes que colorem o semiárido: Identificação, caracterização e mapeamento de sementes crioulas nos Territórios da Cidadania do Rio Grande do Norte, desenvolvido pela UFRN, com o objetivo de analisar as práticas de conservação e manejo de sementes crioulas adotadas por agricultores familiares do Rio Grande do Norte. A revisão da literatura evidenciou que as sementes crioulas são mais que recursos genéticos: são patrimônio cultural e político que expressa identidade, memória e resistência dos povos e comunidades tradicionais. Os resultados empíricos revelaram a riqueza dos conhecimentos locais sobre manejo, conservação e significado simbólico das sementes, compreendidas como “sementes da vida”, vinculadas à ancestralidade e à espiritualidade. Práticas como feiras, bancos comunitários e redes de guardiões e guardiãs emergem como formas de resistência coletiva e salvaguarda da agrobiodiversidade. A pesquisa também destacou o protagonismo de mulheres, idosos e organizações comunitárias na manutenção desses saberes, bem como os desafios enfrentados, como o êxodo rural e a ausência de políticas públicas contínuas, adequadas e de base agroecológica, fundamental não apenas para a biodiversidade, mas para a construção de um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, justo e plural.Observou-se, contudo, um esforço crescente em envolver a juventude rural em espaços de formação e gestão coletiva das sementes. Como conclusão, tem-se que as sementes crioulas representam tecnologias ancestrais e símbolos de resistência e autonomia, exigindo o reconhecimento de seus valores bioculturais e a construção de políticas públicas que fortaleçam os territórios tradicionais. Assim, afirma-se que defender as sementes crioulas é defender a vida, a diversidade e a possibilidade de futuros enraizados nos saberes e práticas das comunidades que cultivam não apenas alimentos, mas também histórias, sonhos e modos de existência sustentáveis.