CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DOS PESCADORES E DAS COLETORAS DE PATANÉ, RN/BRASIL
etnobotânica, população tradicional, escassez de recursos florestais
A etnobotânica pode utilizar a linguagem para desvendar sistemas de classificação nativos e o conhecimento etnobotânico a eles conexos. Tal saber nativo, que não é um conhecimento primitivo, possui natureza igual àquela da ciência formal. Nessa perspectiva estudou-se o conhecimento etnobotânico da população de agricultores-pescadores-coletoras de Patané, Arês, Rio Grande do Norte. Trata-se de população vastamente ligada ao território, sobre o qual conserva um saber repleto de simbologias, transmitido pela oralidade desde as gerações passadas, e onde se pratica agricultura, pesca e coleta de mariscos com baixo impacto e excedente. Evitaram-se abordagens apenas utilitaristas ou intelectualistas. Objetivou-se descrever o conhecimento etnobotânico local e a percepção ambiental nativa sobre a importância e o desaparecimento das matas e de algumas plantas, como forma de subsidiar a valorização e a preservação da biodiversidade e da autonomia cultural daquelas pessoas. Para isso realizaram-se entrevistas individuais formais e semiestruturadas, aplicadas consecutivamente a informantes amostrados não probabilisticamente por bola de neve. Foram coletados dados socioeconômicos dos informantes. Realizaram-se perguntas sobre as plantas que conheciam e os usos múltiplos dados a elas. Foi obtido por listagem aberta um inventário das plantas conhecidas e daquelas consideradas como importantes, doravante chamadas “de uso estratégico”. Um teste de adequação foi realizado a partir da concordância dos entrevistados com as interpretações e induções do pesquisador. Passeios guiados foram realizados para colher fotografias e amostras testemunhas das plantas, todas identificadas pelos métodos usuais da botânica. Foram coletados aproximados 6500 minutos de gravações. Trechos das entrevistas sobre percepção são apresentados procurando-se evidenciar as informações consensuais. Alguns dados foram apresentados por estatística descritiva. Montaram-se duas listas de plantas, uma com as de uso estratégico e outra com todas as espécies citadas no estudo. Em ambas constam termos etnotaxonômicos, nomenclatura botânica e usos múltiplos locais. Evidenciou-se que a disponibilidade e o direito ao uso dos recursos florestais estão intimamente ligados à manutenção e ao controle do etnoconhecimento, e, por extensão, atrelados à autonomia cultural daquelas pessoas.