Aspectos psicométricos e biológicos da fragilidade e massa muscular em idosos comunitários: Resultados do estudo PRO-EVA
fragilidade; músculo esquelético; valores de referência; árvores de decisão; biomarcadores.
Resumo
Introdução: Fragilidade é uma síndrome biológica caracterizada pelo aumento da vulnerabilidade física e psicológica e redução da resistência a estressores, reservas fisiológicas e da capacidade intrínseca de um indivíduo. O desenvolvimento dessa condição parece estar, em partes, associado aos mecanismos biológicos envolvidos no processo de envelhecimento, tornando essencial compreender melhor tais mecanismos. A fragilidade é amplamente relacionada à diminuição da massa muscular corporal, que reflete em consequências físicas e sociais para os idosos. O uso de instrumentos e modelos de baixo custo e fácil aplicabilidade para o rastreio da fragilidade e da baixa massa muscular em idosos é factível na atenção primária em saúde, uma vez que os seus diagnósticos são complexos e requerem uso de tecnologias de alto custo. Objetivo: Compreender os aspectos biológicos da fragilidade e da baixa massa muscular, além de possibilitar o rastreio de ambas as condições por meio de medidas psicométricas. Métodos: Essa tese retrata uma revisão narrativa e dois estudos transversais compostos por 786 idosos comunitários residentes em Parnamirim (Rio Grande do Norte), com idade igual ou superior a 60 anos. Foram coletados dados sociodemográficos, antropométricos, de composição corporal e de desempenho físico. Foi avaliada a acurácia diagnóstica do Short Physical Performance Battery (SPPB), um instrumento simples e de baixo custo, para rastrear fragilidade e pré-fragilidade. Para o rastreio da baixa massa muscular, foram realizadas análises com árvore de regressão para identificação de um modelo. Para a revisão narrativa, foram reunidas informações acerca da associação entre biomarcadores do fenótipo de envelhecimento proposto por López-Otín et al. (2013) e fragilidade. Resultados: O SPPB apresentou uma boa acurácia diagnóstica para discriminar idosos não-frágeis de frágeis usando um ponto de corte de 9 pontos no escore total. Para a identificação da pré-fragilidade, o SPPB apresentou medidas de acurácia diagnóstica de baixas a moderadas, porém, foi verificado que esse instrumento pode ajudar no rastreio de idosos pré-frágeis a partir do ponto de corte de
≤11 pontos. Para o rastreio da baixa massa muscular, foi desenvolvido um algoritmo com alta acurácia, baseado nos fatores de Índice de Massa Corporal (IMC) (valores ≤ 22,7 kg/m² para homens e ≤ 24,9 kg/m² para mulheres), sexo (feminino), perímetro de panturrilha (valores ≤ 31,7 cm para mulheres com IMC ≤ 24,9 kg/m²) e uso de psicotrópicos em indivíduos com IMC > 29,4 kg/m². Em relação à revisão narrativa, foram identificados os principais biomarcadores do envelhecimento associados à fragilidade: número de cópias do DNA mitocondrial, tamanho dos telômeros, metilação global do DNA, Hsp70, Hsp72, IGF-1, SIRT1, GDF-15, porcentagem das células CD4+ e CD8+, células progenitoras osteogênicas circulantes, IL-6, CRP e TNF-alfa. Conclusões: A identificação de fragilidade é possível por meio do SPPB, uma vez que este apresenta boa acurácia diagnóstica para discriminar idosos não-frágeis de frágeis usando um ponto de corte de 9 pontos no escore total, sendo melhor para identificar aqueles indivíduos não-frágeis. Apesar da acurácia diagnóstica do SPPB em detectar pré-fragilidade ter sido de moderada à baixa, esse instrumento pode ajudar no rastreio desses idosos, permitindo a implementação de intervenções precoces. O rastreio da baixa massa muscular pode ser realizado por meio do algoritmo desenvolvido neste estudo, o qual apresentou alta acurácia, com base nos fatores de IMC, sexo, perímetro de panturrilha e uso de psicotrópicos. Por fim, dentre os principais biomarcadores do envelhecimento associados à fragilidade, o IGF-1, SIRT1, GDF-15, IL-6, CRP e TNF-alfa apresentaram evidências mais robustas, destacando a importância da inflamação e detecção de nutrientes em fragilidade.