Ética da crença. Educação para a crença. Crença e política. Crença racional.

Esta pesquisa defende a existência do dever no âmbito da crença dialogando com a tradição filosófica em estudos sobre ética da crença, representada pela clássica dupla de artigos de Clifford e James, mas fazendo também uma argumentação utilizando a ideia de razão instrumental a partir de considerações sobre a que fins serve a crença (ex.: verdade ou felicidade). Além disso, argumenta-se que há uma desproporção em relação à atenção filosófica dedicada à crença, quando comparada ao conhecimento, ao mesmo tempo em que o tipo de sociedade em que vivemos exige uma formação cidadã em que o importante papel efetivamente exercido pelas crenças na vida política tenha um tratamento educacional correspondente, o que parece não ocorrer. Também é avançado o argumento segundo o qual essa lacuna educacional é capaz de explicar alguns dos problemas recentes, como a onda de notícias falsas (fake news) e o aumento da polarização e da difusão de teorias conspiratórias. Ainda seguindo essa linha, somam-se aos argumentos tradicionais considerações estruturais focadas na divisão do trabalho e no funcionamento do que se entende por esferas pública e privada a partir da visão de Habermas, com olhar especial para a questão da responsabilidade sobre a crença nos casos em que discussões públicas acabam tendo algum suporte, em menor ou maior grau, em premissas baseadas em crenças normalmente consideradas como estando na esfera privada. Diante da relevância das hipóteses avançadas, a pesquisa engloba dois desdobramentos: o primeiro diz respeito a uma pesquisa empírica simples para embasar a hipótese de que não se trata de ineficiência quanto a estratégias de ensino já existentes e voltadas à formação apropriada de crenças, mas de ausência de abordagem educacional. A partir desse diagnóstico e da relevância da formação de crenças sustentada pela tese, surge como segundo desdobramento uma tentativa de contribuição que consiste em um esboço de como seria um trabalho educacional voltado ao cultivo de um processo de crença racional, com o objetivo de servir de convite para que outras pessoas venham contribuir com melhorias nesse aspecto.