VIDA NUA: REVISÃO DE UM CONCEITO
Vida nua. Biopolítica. Exceção. Raça. Racismo.
Este trabalho tem como objetivo a revisão do conceito de vida nua. Para tanto, definimos como objeto de análise os textos de Giorgio Agamben em seu projeto Homo sacer. Nossa proposta visa compreender como o autor reflete e fundamenta o conceito ao longo do seu projeto já finalizado, de modo que seja possível ampliá-lo para um melhor debate no campo político-filosófico. A tese a ser defendida investiga a relação entre vida e política quando, divididas e articuladas entre si através do poder do Estado, a vida humana (cidadã, consciente e livre) torna-se vida nua, isto é, matável impunemente pela decisão soberana, e a biopolítica, organização e gestão calculada da vida dos indivíduos, justifica-se enquanto política de exceção. Para tanto, partimos da seguinte hipótese: se em Agamben o “campo” (paradigma político) – de refugiados, de concentração e de extermínios – tem suas origens nas guerras coloniais, sustentamos a tese de que a vida nua presente na colonização seja, por excelência, originária da política de exceção contemporânea. Sendo assim, vale compreender a categoria conceitual da vida nua como perspectiva para as discussões políticas e jurídicas, buscando assentar questões sobre raça, escravismo colonial e racismo no território da discussão da filosofia política contemporânea. Desse modo, configuramos nosso problema da seguinte maneira: ao refletir sobre a vida nua como aquela fabricada no limiar da violência soberana, em um cenário político de dispositivos e técnicas de exclusão (nazistas e racistas), como explorar essa perspectiva originária dos paradigmas políticos contemporâneos? Em vista disso, buscamos entender o epistemicídio causado a partir do arrastão das vidas negras pelo atlântico como movimento originário dos acontecimentos-limite do Estado de exceção contemporâneo.