PROFUNDIDADE DO MUNDO
A ONTOLOGIA DO VISÍVEL DE MERLEAU-PONTY
Visível. Mundo. Sobrevoo. Descartes. Merleau-Ponty.
O presente trabalho discute a profundidade e a opacidade do mundo percebido no pensamento de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) em contraposição à transparência do mundo geométrico pensado por René Descartes (1596-1650). Num primeiro momento é abordado o discurso cartesiano desenvolvido na Dióptrica de Descartes, o primeiro de uma série de três discursos científicos publicados em 1637, sendo introduzidos pelo famoso Discurso do Método. Neste sentido, esta pesquisa discorre sobre a explicação mecanicista que o filósofo moderno apresenta acerca da visão, um processo que abrange a formação das imagens na retina e sua comunicação ao cérebro , bem como a posterior leitura realizada por uma mente imaterial. Discute-se a noção de imagem mental enquanto resultado da interpretação do espírito, pois, para Descartes, não é o olho que vê, mas sim o espírito que lê e decodifica os sinais que o corpo recebe do mundo. Noutro momento, a pesquisa se detém na crítica que o filósofo Maurice Merleau-Ponty fez ao pensamento de sobrevoo presente na Dióptrica de Descartes. Para tanto, toma-se como principal referência a terceira parte da obra O Olho e o Espírito (1961), na qual a abordagem intelectualista da visão é considerada como uma tentativa fracassada de se afastar do visível para reconstruí-lo a partir de lugar nenhum. Neste sentido, aborda-se o modo fenomenológico de tratar a visão enquanto o enigma que manifesta a promiscuidade entre o vidente e o visível. Assim, o presente trabalho discorre sobre o modo como a visibilidade foi tratada pelo fenomenólogo, não como algo a ser julgado pelo espírito para obter uma real natureza das coisas, mas como uma manifestação das coisas mesmas. Por fim, esta pesquisa explora a ontologia do visível no pensamento de Merleau-Ponty, uma ontologia que não reconstrói nem se apropria do visível por um pensamento de sobrevoo, mas que se faz a partir da própria visibilidade enquanto relação originária e incessante com a profundidade do mundo.