Desreplicação do extrato hidroetanólico das raízes de Harpalyce brasiliana BENTH (Leguminosae) e avaliação do seu potencial anti-inflamatório e antioxidante
Espectrometria de Massas; Pterocarpanos; Isoflavonoides; Cabenegrina A-II; Antiofídica; Antioxidante; Biocompatibilidade
A química de produtos naturais vem sendo profundamente modificada, principalmente em relação ao processo de descoberta de fármacos baseados em alvo molecular, os quais empregam grandes coleções de compostos naturais, sintéticos e seus derivados. As ferramentas modernas de análise e desreplicação de produtos naturais estão facilitando a caracterização e a detecção de novos compostos bioativos, por exclusão de produtos naturais já conhecidos, e promovendo a descoberta de leads mais eficientes, além de permitir a sugestão de possíveis mecanismos de ação, com base em análises metabolômica, proteômica e genômica. A desreplicação do extrato hidroetanólico de Harpalyce brasiliana, planta endêmica da Caatinga conhecida popularmente como “raiz-de-cobra”, possibilitou a identificação de 20 compostos por LC-MS/MS, sendo principalmente isoflavonas e flavanonas preniladas e geraniladas. O extrato hidroetanólico de H. brasiliana é amplamente utilizado pela população no tratamento de picadas de serpentes e desordens inflamatórias e, provavelmente este efeito esteja associado aos flavonoides presentes nesta espécie, que são moléculas já reportadas na literatura por suas propriedades antiofídicas. O extrato também foi investigado in vitro e in vivo quanto ao seu potencial toxicológico e foi submetido a avaliação dos efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios. O extrato não demonstrou ser citotóxico em eritrócitos e células normais nas concentrações testadas. Em todos os testes de antioxidantes in vitro, o extrato demonstrou efeitos promissores. Para a dosagem de NO, o extrato evidenciou redução da expressão de NO após a administração do extrato (500 e 2000 µg/mL). O modelo Zimosan com bolsa de ar evidenciou redução do número de leucócitos (especialmente de polimorfonucleares), produção de MPO, proteínas totais e níveis de citocinas, bem como, demonstrou o efeito antioxidante através da diminuição do MDA e aumento dos parâmetros de GSH. Esta abordagem demonstra pela primeira vez que o extrato etanólico de raízes de H. brasiliana é biocompatível, apresenta baixa toxicidade e possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias em análises pré-clínicas, corroborando seu uso popular. Tais dados chamam a atenção para a espécie como uma fonte promissora de moléculas bioativas que podem ser utilizadas no tratamento de doenças inflamatórias, podendo contribuir para o avanço das aplicações biofarmacêuticas para esta espécie.