EM BUSCA DE UM REINO, EM MEMÓRIA DE UM REI: TRAÇOS DO SERTÃO NO ROMANCE
DA PEDRA DO REINO DE ARIANO SUASSUNA
História - Literatura - Sertão - Ariano Suassuna - Reino
Ao longo da história, o homem significou e compreendeu o espaço de diferentes formas, estas emaranhadas de múltiplos anseios e olhares são produtos e produtoras de complexas construções culturais. Partindo da relação história, literatura e espaço, nossa reflexão busca problematizar a construção simbólica que envolve a representação do sertão no Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do sangue do vai-e volta do escritor, poeta e teatrólogo paraibano Ariano Suassuna. Mediante a relevância que o sertão assume em todo o discurso suassuniano mergulhamos nas tramas que tecem e lhe atribuem uma identidade, destacando especialmente as referências paternas do escritor como elementos constituintes de seu olhar sobre tal espacialidade. Tendo perdido o pai quando tinha apenas três anos de idade e em meio às circunstâncias políticas e sociais da revolução de 1930, Suassuna parte dessa memória pessoal trágica, reinventando histórico e culturalmente o sertão. De lugar órfão do seu “Rei” (neste caso, João Suassuna), esse espaço assume na literatura de Suassuna a metáfora de “Reino” recomposto em sua grandeza cultural e histórica. Interessa-nos, portanto a dimensão sensível que envolve essa construção simbólica, o caráter sentimental e afetivo que compõe a relação dos homens com os espaços através do discurso literário. Portanto, percorremos o discurso suassuniano na tentativa de compreender a trama histórico-literária que constrói tal espaço como um “reino armorial”. Para isso, o esforço de nossa reflexão situa-se no sentido de mergulhar nas referências que demarcam a nosso ver a relação de Suassuna com o sertão. Portanto, uma historicidade na fabricação de seu olhar sobre esse espaço conferindo-lhe uma significação peculiar precisa ser verificada. Nas páginas do romance, a cena de escritura de Suassuna vai tecendo um lugar especial para o sertão e entrecruzada às demais cenas de sua autoria, formação intelectual e vida pessoal referenciam e projetam esse espaço enquanto um “reino”. Para entender essa representação do sertão na referida obra faz-se necessária a sua desconstrução, atentando para os rastros que lhe identificam ainda que “silenciosamente” no discurso. Percorramos então, suas sendas.