DO CORPO AOS GESTOS: UM OLHAR SOBRE GÊNERO, PERFORMANCE E RITUALIDADE NO LOGOS TRÁGICO ATENIENSE
Linguagem não verbal (Gestos); Fronteiras de gênero; Performance;Ritualidade; Tragédia grega.
A tragédia, como gênero da literatura, é constituída por uma especificidade própria doseu estilo e linguagem teatral. Em sua concepção, o teatro acentua uma vinculação coma experiência performática do corpo. Na tragédia ática, havia uma mimetização domasculino e do feminino observada no discurso e na performance dos atores em cena. Éa partir dessa compreensão, sobretudo da especificidade da tragédia grega, que buscocompreender a mobilidade corporal percebida não apenas no palco, no corpo do ator,mas presente na linguagem cênica que constitui os personagens. Deste modo, napresente proposta de tese, inserida em discussões dos estudos dos gestos (GesturesStudies), analiso a linguagem (verbal e não verbal) em três textos da poética trágicasofocliana, encenadas entre 442 e 430 a.C: Ájax (Αἴας), Antígona (Ἀντιγόνη), AsTraquínias (Τραχίνιαι).Busco compreender as fronteiras de gênero percebidas nosgestos performatizados por homens e mulheres a partir do logos trágico, assim como ossignificados destes gestos no contexto destes espaços de ritualização da poiesissofocliana. A linguagem não verbal é percebida em três categorias presentes nanarrativa trágica: gestos (lamentações, silêncio, rituais), movimentos (postura, olhar,toques, expressões faciais) e objetos cênicos (roupas, acessórios e adereços) queproduziam uma corporidade e compõem a particularidade do texto teatral.Parto daespacialização das práticas, usos e performatividade dos corpos no contexto trágico paraentender como essas expressões corporais, que demarcam essa espacialidade de gênero,são construídas no contexto da poética trágica sofocliana. Para tanto, dialogo com osconceitos de performance, de Butler (2003), espaço corporificado (embodied space),Setha Low (2003), e espaço ritual, de Susan Cole (2004), assim, estruturando com osestudos de gênero na antiguidade clássica, uma corpografia (bodygraphy) das diferentesmaneiras que homens e mulheres experienciavam o espaço ritual ateniense.