O objetivo deste trabalho é analisar a presença de famílias cativas na freguesia de Sant’Ana de São José de Mipibu entre os anos de 1841 e 1862, observando a construção de uma territorialidade escrava em um espaço que não era deles a priori, mas sim da Igreja e sociedade católica. Interpretamos a formação das instituições familiares escravas neste espaço como um ato de resistência e sobrevivência por partes dessas mulheres e homens escravizados, os quais estavam inseridos dentro de uma sociedade escravista. Para isso, temos como fonte principal de estudo os registros de batismo desta freguesia, os quais foram lidos, transcritos, analisados e sistematizados com base na metodologia da História Serial e Quantitativa. Assim, acreditamos que as escolhas dos padrinhos e madrinhas pelas famílias cativas no momento do batismo das crianças escravas seria uma estratégia de sobrevivência, (re)existência e busca por autonomia destes seres escravizados. A escolha pelo estudo da freguesia de Sant’Ana se deu, pois, parte de seu território eclesiástico está localizado na zona rural da cidade de São José de Mipibu que no século XIX desempenhou um papel importante economicamente dentro da província do Rio Grande do Norte, contando com pequenos e médios engenhos produtores de açúcar, rapadura e cachaça, atividades que necessitam de significativa mão de obra escrava para trabalhar nas plantações de cana de açúcar.