La tierra de guerra: conflitos e produção de espaços no Chile (XVI-XVII)
império espanhol, tierra de guerra, Novo Mundo, Chile, guerra, domínio.
No século XVI, a expansão do império espanhol sobre o Novo Mundo levou multifacetados contingentes humanos a travar prolongadas e renhidas guerras. Esses eventos sui generis são geralmente denominados de “conquista da América”. Nosso estudo problematiza a noção de guerra e de conquista, buscando focar na dimensão conflitiva como mecanismo formador de uma certa espacialidade, uma tierra de guerra. O foco deste estudo são as periódicas guerras no Chile, chamadas genericamente de Guerra de Arauco, entre meados do século XVI e meados do XVII. Para isso, a priori, buscamos entender o conceito de guerra dentro da cultura hispânica e a influência de certas concepções ligadas às noções de guerra santa e guerra justa no processo de ocupação do Novo Mundo. A partir da análise da expansão espanhola na Nova Extremadura, buscamos entender como a guerra entre os invasores e as populações indígenas, geralmente cognominadas de araucanos ou mapuches, moldou o espaço litigioso dessa província, parte marginal do mundializado império ultramarino espanhol. Esta influência da guerra sobre o espaço se dá em dois planos principais. Primeiro, havia uma dimensão física: produzia-se uma ocupação espacial baseada na força das armas. Cidades, fortes e até mesmo missões obedeciam a lógicas militares e contribuíram para a imposição de um domínio sobre o espaço e sobre seus ocupantes. Em segundo, vem a dimensão imagética: os desafiadores confrontos encorajaram uma produção discursiva que caracterizava essa espacialidade em formação como um território pensado principalmente a partir de suas especificidades bélicas. No plano indígena, os confrontos produziram enormes modificações na sua relação com a violência coletivamente organizada, na sua cultura guerreira e nas formas de organização sócio-espacial. Esse cenário nos leva a refletir sobre os diversos mecanismos utilizados pelas forças espanholas para impor seu domínio e, igualmente, sobre as estratégias de resistência indígena. A formação de uma estrutura fronteiriça foi o resultado desse antagonismo, exacerbado pela persistente resistência dos povos nativos. A partir da segunda metade do século XVII, os conflitos arrefeceram, e uma relação de intercâmbios aflora entre as duas partes da tierra de guerra. A violência, no entanto, continua sempre presente, embora a era dos grandes levantes e rebeliões gerais tenha esmaecido.