CRISTIANIZAÇÃO ESPACIAL E ESTRATÉGIAS MATRIMONIAIS DE ESCRAVOS NA CAPITANIA DO RIO GRANDE DO NORTE: TERRITÓRIO, ESCRAVIDÃO E MESTIÇAGENS NA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO (1727- 1760)
cristianização espacial; família escrava; mestiçagens.
Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre o processo de cristianização espacial e o matrimônio de escravos na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, por meio dos registros matrimoniais e de batismo da paróquia, tendo como recorte temporal os anos de 1727 a 1760. A noção de cristianização espacial, baseado na obra de Cláudia Fonseca, faz referência ao processo de territorialização, por meio da construção de espaços sagrados, empreendido pela Igreja Católica e pela Coroa Portuguesa durante o período colonial ao estabelecer circunscrições eclesiásticas nas áreas conquistadas. O recorte temporal selecionado se inicia no período posterior à Guerra dos Bárbaros e se estende até o início da modificação do espaço jurisdicional da freguesia, a partir de 1760, com a criação de novas paróquias, como a Freguesia de São Miguel de Extremoz e a Freguesia de Nossa Senhora do Ó e Santana do Mipibu. Neste período, a paróquia englobava a maior parte do litoral leste da capitania, incluindo a matriz, localizada na cidade de Natal; os aldeamentos indígenas de Guajirú (atual Extremoz), Mipibú (atual São José de Mipibú) e Papari (atual Nísia Floresta); e algumas capelas espalhadas nas áreas rurais, na ribeira dos rios Mipibú, Ceará-mirim, Potengi e Jundiaí. Por meio da análise dos dados quantitativos e qualitativos da documentação eclesiástica (casamentos e batismo), é possível perceber que a Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação era formada por espaços onde foram tecidos laços familiares entre a população portuguesa, negra, indígena, mestiça, livre e escrava. Diante da importância do estudo das estratégias matrimoniais para a compreensão das dinâmicas sociais entre os indivíduos de diferentes qualidades e condições jurídicas na sociedade colonial escravista da Capitania do Rio Grande, este trabalho estuda como os cativos se apropriavam do código social dos brancos para atingirem seus objetivos e legitimar suas ligações familiares para seus senhores e para a sociedade.