O VALE DAS MIRAGENS: GRANDES PROJETOS HÍDRICOS E A 'REDENÇÃO' DO BAIXO AÇU (1911-1983)
Grandes projetos hídricos; Vale do Açu; Projeto Oiticica; Projeto Baixo Açu; Barragem Armando Ribeiro Gonçalves.
O presente trabalho se debruça sobre o Vale do Açu (RN), tomando esse recorte espacial sob uma temática particular: os grandes projetos públicos de gestão das águas. Ao longo do século XX, o Vale foi considerado por dados agentes sociais (entre eles os técnicos e políticos) como uma área fértil, de enorme potencial agrícola, mas com baixa capacidade produtiva. Essa baixa produtividade se devia, segundo o discurso dos técnicos e engenheiros, à susceptibilidade da geografia local às ambivalências do clima (às secas e enchentes); ou à falta de modernidade nas relações de trabalho e na própria produção agrícola (como a irrigação sistemática, por exemplo). Assim, por meio da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), e, depois, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), o Estado implementou dois grandes projetos hídricos que visavam atacar aqueles problemas, instalando uma modernidade capaz de superar os dramas impostos pela natureza e de dinamizar a capacidade produtiva, cuja pretensa precariedade os técnicos explicavam pelo atraso técnico. Na década de 1940 e 1950, o Projeto Oiticica foi apresentado pela IFOCS como a solução para o Vale do Açu, como a obra que regularizaria o regime das águas, trazendo tranquilidade às comunidades locais vitimadas pelas enchentes periódicas – o projeto, entretanto, foi abandonado depois de um tempo; na década de 1970, tomando como base uma série de novos estudos, o DNOCS decidiu investir em um novo projeto, o chamado Projeto Baixo Açu, do qual resultou a construção da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, obra inaugurada em 1983, limite final do nosso recorte temporal. Portanto, essa pesquisa se propõe a estudar os grandes projetos hídricos planejados para Vale do Açu entre os anos de 1911, quando ocorreram os primeiros estudos sistemáticos sobre a geografia local (a partir de uma preocupação particular, as secas) e o ano de 1983, quando a primeira grande obra de engenharia foi inaugurada.