TURISMO E POBREZA: PERCEPÇÕES DOS GUIAS DE TURISMO MORADORES E NÃO MORADORES QUE TRABALHAM NA FAVELA DA ROCINHA - RIO DE JANEIRO
Turismo. Pobreza. Favelas. Guias de turismo. Guias Moradores. Guias Não-moradores.
O presente estudo refere-se a um tema um tanto controverso, na medida em que focaliza um lado menos reconhecido e valorizado, embora a dinâmica do turismo passe a dar outra visualização, que não se pode de antemão considerar favorável ou desfavorável. Analisa-se o fenômeno do turismo relacionado à concepção ou percepção de pobreza partir dos guias de turismo moradores e não-moradores da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. É um assunto com objeto de pesquisa um tanto polêmico, mas sobre o qual já existe uma preocupação acadêmica e científica e que merece um olhar investigador. Enquadra-se como estudo qualitativo, cujo procedimento metodológico baseado em entrevistas e observação participante, sendo o recorte geográfico escolhido a Favela da Rocinha, pela sua expressividade e por ser pioneira nessa modalidade de turismo, teve-se a realização de trabalho de campo com a duração de seis meses, onde acompanhou-se por no mínimo quatro horas a pé o trabalho de dezesseis guias de turismo, sendo oito moradores e oito não-moradores pela comunidade, que trabalham para diferentes agências de viagens e turismo. Ao final de cada tour, todos os guias de turismo responderam a um questionário semiestruturado, contendo dezenove perguntas. A maioria dos guias de turismo entrevistados autorizou gravar entrevista, fato que possibilitou fazer uma análise do discurso através da linguagem falada. Neste turismo, os turistas estrangeiros são o alvo principal, embora, também conte raramente, com a participação de turistas nacionais. Constata que, a relação entre favela e pobreza, a partir das percepções de guias de turismo moradores reflete melhor a realidade da favela comparado com os guias não moradores, uma vez que eles conhecem inteiramente todos os meandros e melhor todas as dificuldades por que passaram e ainda passam, no que diz respeito à questão da estigmatizarão pela qual vem sofrendo pela sociedade brasileira, em relação a viver na favela, além de terem que apresentar o seu lugar de moradia como atração turística. Ainda que apresentem a realidade social da Rocinha de modo coerente durante seu trabalho, os guias não moradores preocupam-se em ser o mais natural possível com os turistas, tanto quanto os moradores ao mostrar a favela, do mesmo modo em que evitam autorizarem os turistas a tirarem fotos comprometedoras e que venham expor a intimidade dos moradores da comunidade. Conclui que, apesar de reconhecer a relevância de elevação à categoria de atração turística e suas promissoras perspectivas, requer atenção e prioridade, em face da maior precarização da condição humana, em relação às áreas nobres em que está inserida, devendo o turismo ser um vetor de desenvolvimento, não um mascaramento da realidade.