Bouvard e Pécuchet: uma antecipação da estética da colagem e da negação na literatura
Flaubert. Literatura francesa. Artes plásticas, Contemporaneidade.
O presente trabalho pretende mostrar que a última obra Bouvard e Pécuchet (1881), do escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880), antecipou processos estéticos do século XX, como a colagem (cubista) a negatividade (dadaísta) na literatura no século XIX. Publicado em 1881, o livro desconcertou os seus contemporâneos e foi considerado uma “vingança moral” diante da sociedade burguesa da época. O autor dedicou-se a leituras de vários livros, de assuntos de diversas áreas cientificas, com o intuito de criar uma “Enciclopédia da estupidez humana”. Para isso, Flaubert detectou teorias incoerentes e redirecionou para seu romance, mantendo a autoria das obras que lia, onde o tempo, o espaço e a posição do autor acabam se confundindo, denunciando a estupidez humana diante da necessidade de obter conhecimento. Assim, a colagem de ideias de outros autores dá a narrativa um aspecto fragmentado e a negatividade é construída através da sátira que Flaubert faz aos conhecimentos científicos, que são invalidados a cada capítulo. A relação literária com as duas estéticas de vanguarda mencionadas, se justifica na fala de Campos (1978) ao dizer que Flaubert já anunciava elementos modernistas no século XIX em Bouvard e Pécuchet. Assim, pretendemos abordar aspectos estéticos das obras de Gustave Flaubert, ressaltados por Barthes (1974, 2004), como a obsessão pela tolice humana, a fascinação pela ciência e a catalogação de informações em favor de sua escrita, com apoio teórico em Dord-Crouslé (2000). Faremos também um percurso histórico pelo século XIX, com no âmbito da literatura e das artes plásticas, até culminar na representatividade flaubertiana nas estéticas vindouras, através da análise deBouvard e Pécuchet e das técnicas cubistas e dadaístas.