Massa muscular esquelética de pacientes com câncer: comparação entre métodos de avaliação e associação com mortalidade.
câncer, antropometria, índice músculo esquelético, estado nutricional, mortalidade.
O câncer provoca impactos na composição corporal, e perda de massa muscular (MM) está associada com piores desfechos. Portanto, se torna importante investigar métodos simples, fáceis e economicamente viáveis para avaliar MM, visando identificar precocemente indivíduos com baixa MM. O objetivo do estudo foi avaliar se a circunferência da panturrilha (CP) pode ser utilizada como marcador de MM considerando índice de massa muscular (IMM) avaliado por tomografia computadorizada (TC) como padrão ouro e o valor prognóstico dos métodos em predizer mortalidade em pacientes com câncer. Foi realizado um estudo prospectivo unicêntrico com pacientes adultos e idosos atendidos em hospitais de referência em oncologia e que tivessem imagens de TC abdominal recentes. As coletas foram realizadas por questionário e no prontuário dos pacientes e incluíram dados sociodemográficos (sexo, idade e etnia); clínicos (sítio primário, estadiamento e tratamentos realizados); antropométricos (índice de massa corporal – IMC e CP) e desfecho (mortalidade). Força muscular foi avaliada através de força de preensão palmar (dinamometria). MM foi avaliada por imagens de TC ao nível da terceira vertebra lombar, quantidade muscular foi analisada através do IMM (área muscular total normalizada pela altura) e qualidade muscular por muscle attenuation (MA). Correlação de Spearman, sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo e área sob a curva receiver operating characteristics (ROC) foram analisadas. Modelo de regressão de Cox ajustados para idade, sexo e estadiamento da doença foi utilizado para avaliar o valor prognóstico dos métodos em predizer mortalidade. Foram avaliados 250 pacientes (52,8% mulheres), com mediana de idade de 63 anos (IQR: 55-73). Câncer coloretal foi o mais prevalente, seguido de estômago em homens e mama em mulheres. Estadiamentos III e IV juntos representaram 64% dos pacientes e 48% realizaram tratamento combinado. Quase metade foi classificada como eutrófica (44,4%); 46,4% apresentavam baixa CP; baixo IMM foi observado em 29,2% dos pacientes; 33,6% tinham baixa MA e baixa força muscular (dinapenia) foi identificada em 41,6% dos avaliados. CP foi positivamente correlacionada com MM e IMM obtidas por imagens de TC, com maiores correlações entre CP e MM não ajustadas para altura tanto em homens (r=0,667; p<0,001) quanto em mulheres (r=0,392; p<0,001) (correlação moderada e fraca, respectivamente). A área sob a curva para CP identificando baixa MM foi maior em homens (AUC 0,697; 78% sensibilidade e 62% especificidade) comparado com mulheres (AUC 0,563; 50% sensibilidade e 63% especificidade). Teste Kappa mostrou uma concordância aceitável (0,366; p < 0,001) entre os métodos, entretanto, foi observada apenas em homens. Mortalidade global ocorreu em 16% dos pacientes e apenas baixa CP se mostrou preditora de risco de mortalidade (HR = 3,02; CI 1,52-6,03, p = 0,002). Em conclusão, baixa CP se mostrou consistente com baixa IMM para homens e preditora de risco de mortalidade em pacientes com câncer. Os achados possibilitam o uso da CP como ferramenta de triagem simples na prática clínica para identificar pacientes em risco de morte direcionando a cuidado especializado para melhorar o prognóstico.