A MARCHA DAS VADIAS COMO RESPOSTA CARNAVALIZADA AO MACHISMO: IDENTIDADES DE GÊNERO EM CONSTRUÇÃO
Linguagem. Práticas discursivas. Cultura. Identidades de gênero. Marcha das Vadias.
O objetivo deste estudo é investigar identidades das mulheres construídas a partir de discursos que circulam em panfletos de divulgação da Marchas das Vadias, movimento feminista que surgiu no ano de 2011 em Toronto no Canadá e que tem ganhado destaque mundial no combate a atos de violências praticados contra as mulheres. Na tentativa de combater o machismo, esse movimento busca desconstruir discursos que responsabilizam as vítimas pela violência a que são submetidas e, simultaneamente, constrói novos significados acerca das identidades femininas. Nesse sentido, no intuito de alcançar o objetivo dessa pesquisa, investigamos os posicionamentos valorativos presentes em 12 panfletos de divulgação da Marcha das Vadias, para a partir dos recursos linguístico-discursivos e semióticos utilizados identificar que identidades das mulheres são construídas. Para tanto, a pesquisa ora apresentada insere-se no campo dos estudos em Linguística Aplicada, estando ancorada em uma concepção sócio-histórica da linguagem, entendendo-a como uma prática discursiva constitutiva e constituinte da vida social (BAKHTIN, 2013 [1965], 2015 [1929]; BAKHTIN/VOLOSHINOV, 2010 [1929],). Ademais, estabelecemos interconexões com estudos sobre identidades de gênero (BUTLER, 2013; LOURO, 2010, 2015; MOITA LOPES, 2002, 2003) e com os Estudos Culturais (HALL, 2014; SILVA, 2014; WOODWARD, 2014), por estes entenderem as identidades como construções históricas, híbridas e descentradas, que são forjadas pelos sujeitos nas práticas sociais. Orientada por esses quadros teórico-metodológicos, a análise dos discursos revelou posicionamentos valorativos que constroem identidades de uma mulher livre, crítica, participativa, que problematiza a violência e questiona estereótipos de gênero ao se empoderar do próprio corpo. Constatou-se, ainda, que essas identidades buscam desconstruir discursos que responsabilizam as mulheres pelas violências de que são vítimas.