A CAUSA MATERIAL EM O OLHO DE VIDRO DO MEU AVÔ: A QUADRILOGIA DA MATÉRIA
O olho de vidro do meu avô; devaneio; imaginário.
Em O olho de vidro do meu avô, Bartolomeu Campos de Queirós dispara sua corrente mnésica a partir de um objeto que corporifica o sentido da visão e abre espaço para uma percepção sinestésica do mundo: o olho. Não o olho vivo, órgão, mas o olho objetificado, o olho de vidro. Esse objeto é dissecado em todas as suas possibilidades, partindo de sua materialidade em busca do cerne do devaneio autoral. A partir disso, analisa-se a obra sob a ótica da estética do devaneio de Gaston Bachelard, buscando uma psicologia profunda das imagens imaginadas pelo escritor. Dentro dessa psicologia profunda, busca-se as causas primeiras da imagética reunida na narrativa. Identifica-se, então, uma causa formal por trás de determinadas imagens sinestésicas e suas sensações de tato, olfato, paladar, audição e visão. Da mesma forma, desmembra-se na causa material as imagens que codificam uma psicologia profunda dos elementos fogo, terra, água e ar. Dessa maneira, procura-se compreender como a forma do olho sintetiza toda uma gama de sensibilidades psicológicas que estão além do próprio estilo do escritor, encontrando ressonância em toda a literatura. Após a descoberta da forma olho, parte-se em busca de algo ainda mais íntimo, a matéria. Para tanto, é essencial que se entenda como o olho de vidro contém, em si, reflexos da estética da matéria proposta por Bachelard. A série de imagens e construções de O olho de vidro do meu avô espelham as forças de dureza da terra, de sexualidade do fogo, de maternidade da água e de movimento do ar.