A PRODUÇÃO DE TEXTO NO CURSO DE LETRAS DO CAMEAM/UERN: uma análise sob o enfoque da Crítica Genética
Produção de Texto. Ensino Superior. Crítica Genética
Enquanto professora do Curso de Licenciatura em Letras, do Campus Avançado “Profª. Maria Elisa de Albuquerque Maia” (CAMEAM), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), na cidade de Pau dos Ferros, RN, tivemos a oportunidade de encaminhar diversas atividades de produção de texto, bem como orientar atividades de reescritura para os textos produzidos. A partir dessa experiência, despertamos para a necessidade de refletir sobre a produção de texto no ensino superior. Assim, pretendemos analisar, nesta pesquisa, a metodologia adotada na orientação de atividades de produção de texto no ensino superior, buscando investigar, particularmente, o trabalho com a reescritura, no que se refere às operações utilizadas para a realização dessa atividade, bem como aos sentidos produzidos a partir das alterações executadas nos textos. Nossa discussão teórica está fundamentada em uma concepção de produção de texto enquanto “atividade verbal”, o que revela uma visão sociointeracional da linguagem (MARCUSCHI, 2008; SAUTCHUK, 2003). Quanto à produção de textos escritos, nosso foco de pesquisa, partimos do pressuposto de que, para esta atividade, lidamos com duas figuras distintas (Escritor Ativo e Leitor Interno), para que possamos, além de escrever, refletir sobre nossa escrita e, assim, decidir sobre as operações que serão realizadas para promover as alterações necessárias à reescritura de nossos textos (SAUTCHUK, 2003). Ainda no que diz respeito aos conceitos teóricos abordados nesta pesquisa, recorremos aos postulados da Análise Textual dos Discursos (ATD) que discute a crença na evidência da existência dos textos, sendo, pois, contra a visão fixista da textualidade que acredita que o texto existe em si mesmo (ADAM, 2008; [2005]2010). Nesta perspectiva, adotamos, também, os conceitos advindos da Crítica Genética que se ocupa da relação entre texto e gênese, tomando por objeto os documentos que trazem o traço do texto em progresso, uma vez que considera o texto como resultado de um trabalho de elaboração progressiva, e a escrita, por sua vez, como uma atividade em constante movimento (HAY, [1975]2002; DE BIASI, [2000]2010; GRÉSILLON, 1989; [1990]2008; [1992]2002; SALLES, 2008a). A metodologia desta pesquisa é de natureza etnográfica, uma abordagem que enfatiza o processo, como também se preocupa com o significado. Para atender aos objetivos propostos por nossa pesquisa, fizemos uso de diferentes procedimentos de coleta de dados que contemplam um estudo de tipo etnográfico, tais como: observação, anotações de campo e análise de documentos. Os dados analisados foram coletados no decorrer do semestre 2008.2, em uma sala de aula do 1º período do curso Letras, do CAMEAM/UERN, oportunidade na qual pudemos coletar vinte e um textos escritos, sendo que todos foram reelaborados a partir
de atividades de reescritura, o que constitui um corpus de quarenta e dois textos que serão analisados a partir das operações linguísticas identificadas pela gramática gerativa e retomadas por Lebrave e Grésillon (2009). A partir da análise, podemos confirmar que a escrita é um processo, e a reescritura vem mostrar-se como uma atividade de extrema importância para esse processo. Ainda em decorrência da análise, observamos que a substituição foi a operação mais utilizada pelos autores dos textos. Acreditamos que esse resultado justifica-se pelo fato de a substituição, de acordo com o que propõe a Crítica Genética, constituir a origem de toda rasura, a partir da qual se pode facilmente efetuar uma mudança na escrita. Quanto às operações de acréscimo e supressão, verificamos que foram empregadas, em termos quantitativos, quase de forma equivalente, o que pode ser explicado quando verificamos que as duas operações exigem, por parte do autor do texto, estratégias distintas daquelas usadas para a substituição, pois implicam, respectivamente, a inclusão ou eliminação de um segmento. Por fim, constatamos que a operação de deslocamento foi a menos utilizada, uma vez que trabalha com um segmento que não será substituído, acrescido nem eliminado, mas transferido para outro lugar do texto, o que requer uma maior habilidade do autor em realizar essa operação e não comprometer o sentido de sua escrita. Com isso, esperamos contribuir para a reflexão sobre o ensino da escrita, considerando-se, de maneira particular, a formação do licenciado em Letras. Nossa análise trará contribuições ao ensino de Língua Portuguesa, especificamente, para as atividades que encaminham a produção textual, no sentido de explorar, junto aos alunos, a capacidade de reescrever seus próprios textos.