“CAMINHOS DO DESEJO, ALTERIDADE E MONSTRUOSIDADE NA CONSTRUÇÃO ROMANESCA DE NELSON RODRIGUES EM ENGRAÇADINHA: SEUS PECADOS E SEUS AMORES”
Cartografia do desejo. Micropolítica. Subjetivação. Rizoma. Lógica das sensações. Corpo sem Órgãos. Corpo-linguagem. Alteridade radical. Rostidade. Monstruosidade. Obs-cena. Exterioridade. Pornografia. Espaço táctil-ótico.
Trata-se nesta dissertação de estabelecer, a partir do pensamento contemporâneo, conjugado ao pensamento francês de linha deleuziana e guattariana, sobretudo, uma analítica do desejo capaz de reconfigurar o romance de Nelson Rodrigues, Asfalto selvagem: Engraçadinha, seus pecados e seus amores, desterritorializá-lo em relação a uma tradição crítica e estética, fundada no paradigma realista-naturalista enraizado nas práticas e no pensamento literário brasileiro, desde o século XIX. Movemo-nos por discussões sobre o autor e o romance empreendidos por Suely Rolnik, relevante interlocutora que disseminou o trabalho psicanalítico de Félix Guattari, ligado aos novos paradigmas estéticos, à questão da produção de subjetividades, à micropolítica, às multiplicidades e minorias, com a introdução desses conceitos produzidos por ele e o filósofo, Gilles Deleuze, ao longo de suas trajetórias. Buscamos contribuir para esse redimensionamento, que nos coloca na perspectiva cartográfica e rizomática para surpreender nessa obra rodrigueana seus processos de subjetivação, a multiplicidade os elementos do desejo como produção do inconsciente, que na obra incide sobre as singularidades selvagens, desenvolvidas por nós considerando os conceitos de Michel Foucault, “singularidades selvagens” e “heterotopia, exterioridade ou experiência do fora, conceitos que supõem o princípio estético. Aqui também entenderemos no sentido deleuziano e guattariano o regime de signos que se instaura no romance, a produção de sentido, a lógica das sensações, dimensão objetivante e dimensão subjetiva, a dramática, o desejante, que constituem o momento estético da obra. Colocamos também a relação com a criação do Corpo sem Órgãos, articulada a essas dimensões, aos agenciamentos, às linhas desse agenciamento, enfim, aos conceitos elaborados em Deleuze, na sua produção autoral, e na conjunta com Guattari. Trazemos, aliados a estes, referências de Georges Bataille, quanto ao que na atividade estética se relaciona com o excedente da visão e o obs-ceno, relacionados ao espaço tático-ótico, concepção deleuziana e seus outros conceitos referentes ao corpo-linguagem, pornografia, pornógrafo, narrativas abomináveis. Desse ponto de vista, acompanhamo-nos dos conceitos de rostidade, da problemática da diferença e da alteridade, repercutindo na larvaridade, nas afecções, nas alterações que abrem vias comunicantes com fenômenos extremos que atuam em torno do mesmo e do outro e trazem a rizomaticidade do mal e os efeitos monstruosos dessa rizomaticidade, vistos tanto sob a ótica de Bataille, Deleuze e de Baudrillard, em ensaios sob a transparência do mal. Relacionamos, subsidiariamente, outras leituras, na direção das mitologias barthesianas e de outras articulações teóricas.