Histórias orais de ribeirinhos do Rio Juruá: um estudo de gênero e discurso de base sistêmico-funcional
Histórias orais de ribeirinhos; Linguística Sistêmico-Funcional; Gênero; Discurso; Sistema de Periodicidade.
Esta pesquisa, sobre histórias orais de ribeirinhos do vale do Rio Juruá, em municípios do Acre e do Amazonas, teve como objetivo principal investigar, por meio do estudo do gênero discursivo, aspectos linguísticos que caracterizam os participantes e o contexto sociocultural em que tais histórias ocorrem. Os textos foram analisados observando-se os estágios e fases que compõem a sua estrutura esquemática, como forma de configuração do gênero discursivo, e ainda as ocorrências léxico-gramaticais mais frequentes, na busca dos sentidos que guiam as histórias, assim como foi verificado o fluxo de informação em sua estrutura linguística para a compreensão das mensagens. Para atingir os objetivos propostos, foi adotado o arcabouço teórico da Linguística Sistêmico-Funcional, proposta por Halliday (1978, 1985, 1994) e posteriormente desenvolvido e ampliado por seguidores, tais como Eggins (1994, 2002) e Martin e Rose (2007, 2008). A análise quantitativa foi realizada com o apoio do instrumental metodológico da Linguística de Corpus (BERBER-SARDINHA, 2004), utilizando o programa computacional WordSmith Tools (SCOTT, 2009) por meio das ferramentas WordList e Concordance. Na análise qualitativa para a caracterização do gênero foram considerados os estágios obrigatórios de Complicação e Resolução (MARTIN; ROSE, 2008). Nela foram analisadas treze narrativas e uma anedota, tomando também por base o estudo da Literatura Oral de Cascudo (2004), o que possibilitou, por meio de sistematização, a identificação tipológica (estrutura esquemática do gênero em estágios e fases) e topológica (a relação entre vários gêneros da mesma categoria). O corpus do estudo composto por quatorze textos orais, representados pelas exemplares da lenda do Mapinguari, foi caracterizado como microgênero Histórias Orais, e têm como finalidade entreter, cuidar, orientar, alertar ouvintes sobre os perigos da floresta; o tipo conto, representado pelas histórias da floresta, e categorizado por doze lendas, foi caracterizado como macrogênero Histórias. A análise pelo sistema discursivo de Periodicidade (MARTIN; ROSE, 2007) permitiu compreender a regularidade do fluxo de informação nos textos por meio de itens como os nomes, referenciadores, conjuntivos, continuativos e verbos. As escolhas lexicais representadas por elementos da língua falada retratam os participantes (ribeirinhos) e o contexto sociocultural (floresta) e caracterizam o discurso ribeirinho. A partir desses resultados, abrem-se possibilidades para outros estudos, tais como o registro dessas histórias para projetos e usos na sala de aula, nos contextos escolares da região, como forma de divulgação, valorização e preservação da cultura de ribeirinhos.