“DOS PELIGROS A LA VEZ”: CASAMENTO E RELIGIÃO COMO REPRESENTAÇÕES DA OPRESSÃO DAS MULHERES NO ROMANCE LA FAMILIA DEL COMENDADOR, DE JUANA MANSO
La família del Comendador; Juana Manso; crítica literária feminista; opressão das mulheres; casamento e religião.
Os escritos de Juana Paula Manso (1819-1875) que circularam no Brasil e na Argentina propuseram o despertar da consciência das mulheres diante da opressão a que eram submetidas. Nesse sentido, compreendemos que a escritora cumpriu, em pleno século XIX, um papel de feminista. Em suas reivindicações, expressou o claro desejo de “propagar a ilustração, e cooperar com todas as suas forças para o melhoramento social e para a emancipação moral da mulher" (O Jornal das Senhoras, 1852, p. 1). Dada essa postura, selecionamos uma das obras de Manso, qual seja, o romance La familia del Comendador (1854), e desenvolvemos esta pesquisa, cujo objetivo geral consiste em caracterizar a representação da opressão das mulheres nesse romance. Nossa abordagem teórico-metodológica está pautada nos diálogos entre a Crítica literária feminista (Golubov, 2020; Zolin, 2010; 2012; Muzart, 2000; Duarte, 2019) e a História das mulheres (Perrot, 2019; 2021; Lerner, 2019; Del Priore, 2016), visto que consideramos que uma abordagem situada historicamente é, não apenas pertinente, mas, sobretudo, necessária para a análise do texto literário. Tendo em vista as representações encontradas, concluímos que, no romance, o casamento e a religião são, por excelência, os domínios de opressão das mulheres, dado que atuam para manter a condição de submissão das personagens femininas. A postura defendida pela autora, contudo, não condena completamente o casamento ou a prática religiosa. Na verdade, recusa a configuração do casamento forçado assim como a permanência forçada no convento. Em ambos os casos, Manso defende a liberdade de escolha com um direito natural pertencente também às mulheres. Tal postura assumida no texto literário condiz com as reivindicações e críticas tecidas em seus artigos Casamento (1851) e A mulher (1852), publicados, respectivamente, nos jornais Periódico dos Pobres (RJ) e O Jornal das Senhoras (RJ). Ademais, identificamos que a ironia, o diálogo com o leitor e as metáforas constituem as estratégias discursivas empregadas na construção das críticas presentes no romance.