GLAUBER ROCHA E AS ESCRITAS DE SI EM RIVERÃO SUSSUARANA
Glauber Rocha; Riverão Sussuarana; Autobiografia; Autoficção; Escritas de si.
Glauber Rocha (1939-1981) é um reconhecido cineasta brasileiro, aclamado pelos seus filmes, pela sua ação estético-política e pela sua atuação junto ao movimento Cinema Novo. Entretanto, ao longo de pouco mais de 20 anos de produção, afora sua atuação no âmbito cinematográfico, ele também foi escritor. E é essa produção o objeto de estudo desta pesquisa: Riverão Sussuarana (2012) é uma “desnovela”, um “recordel” que apresenta a narrativa irregular e complexa do cine-repórter Glauber Rocha sobre a “heuztorya” da sua viagem pelo sertão junto a Guimarães Rosa e outros personagens, com o intuito de encontrar o jagunço Riverão Sussuarana para enfrentarem o empresário invasor estrangeiro Karte Bracker. Mesmo com essa trama ficcional, há uma intensa presença do “eu” em Riverão: para além do protagonismo do próprio Glauber enquanto autor, narrador e personagem no livro, ele realizou sua obra a partir de si, sua vida, suas influências e suas urgências – como a relação de amizade com “Mestre Guima” e o caso da morte da sua irmã Anecy. Dessa maneira, o que nos interessa nesta Tese é investigar como Glauber Rocha trabalha em um mesmo texto o fazer autobiográfico e o fazer autoficcional, instâncias distintas e igualmente intrincadas dentro do escopo das escritas de si. Para tal análise, somados aos textos críticos e às cartas do próprio Glauber (ROCHA, 1986; 1997), temos as biografias do autor (BUENO, 2003; PIERRE, 1996; VENTURA, 2000) e os textos dos pesquisadores das noções de autobiografia (LEJEUNE, 2014; KLINGER, 2006) e autoficção (DOUBROVSKY, 2013). Assim, longe de fixar categorias, temos em Riverão Sussuarana uma potência literária em que vida e obra se mesclam, autobiografia e autoficção se confundem.