TRAUMA MULTITEMPORAL: A REPRESENTAÇÃO DA DITADURA CIVIL-MILITAR EM TRÊS ROMANCES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS
Ditadura civil-militar; trauma; K. – Relato de uma busca; Cabo de guerra; A noite da espera.
Esta tese tem por objetivo investigar a representação da ditadura civil-militar (1964-1985) nos romances: K. – Relato de uma busca (2014), de Bernardo Kucinski; Cabo de guerra (2016), de Ivone Benedetti; e A noite da espera (2017), de Milton Hatoum. Nesse sentido, ao buscar compreender como a experiência autoritária brasileira se manifesta na estrutura formal dessas obras (CANDIDO, 2006), observamos que a recorrência da vivência traumática é um elemento comum nas três narrativas, se manifestando em diferentes épocas e lugares. Diante disso, nosso estudo analisa os três romances a partir do conceito de trauma proposto por Márcio Seligmann-Silva (2000; 2003; 2005), dando especial atenção ao papel do narrador e do tempo na construção ficcional das obras selecionadas. Adicionalmente, em termos gerais, além de abordamos as experiências traumáticas nas narrativas a partir das noções de sonho, luto e melancolia estabelecidas por Sigmund Freud (2006; 2012), também nos subsidiamos teoricamente nas noções de tortura (MALAVER, 2016; VIÑAR, 1992), exílio (SAID, 2003; ROLLEMBERG, 1999) e culpa (LEVI, 2004; SCLIAR, 2007). Com isso, notamos que os romances estudados evidenciam uma tendência da literatura publicada no contexto do cinquentenário do golpe (2014) em expor, por meio de narradores situados no presente, a permanência e a intensificação dos traumas vividos antes, durante e depois da ditadura. Assim, ao identificar a recorrência desse tipo de composição narrativa, vislumbramos a formação de uma nova vertente na ficção literária brasileira, sendo que sua principal característica é o desvelamento da maneira errática como o Brasil lidou com a sua herança ditatorial.