O CONCEITO LÍNGUA PORTUGUESA E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS NA LIBRAS:
A CONCEPTUALIZAÇÃO EM RELATOS DE SURDOS SOB A ABORDAGEM ECOLÓGICA DE COGNIÇÃO E DE LINGUAGEM
Abordagem ecológica de cognição e de linguagem. Conceptualização. Surdos. Libras. Língua portuguesa.
Durante uma interação, é necessário recorrer à rede de conhecimentos que se possui acerca da língua, dos conceitos evocados pelos elementos linguísticos e da situação vivenciada. Envolvem-se, nesse processo, os mecanismos cognitivo-ecológicos associados à construção de sentidos de conceitos, isto é, à conceptualização. Com o intuito de compreender o modo como surdos conceptualizam LÍNGUA PORTUGUESA em relatos disponibilizados em formato de vídeos na plataforma YouTube, esta dissertação busca responder às seguintes questões: (1) como se caracteriza o jogo de linguagem (WITTGENSTEIN, 2012) que estrutura a interação investigada?; (2) quais são as pistas verbais e não verbais envolvidas no processo de conceptualização de LÍNGUA PORTUGUESA por surdos?; (3) quais são os mecanismos cognitivo-ecológicos envolvidos na conceptualização evidenciada?; (4) como os surdos constroem a sua cosmovisão acerca de LÍNGUA PORTUGUESA? Mediante a saturação teórica (STRAUSS CORBIN, 2008), selecionou-se três vídeos produzidos em Libras por youtubers surdos, nos quais são relatadas as suas experiências com o português. Respaldando-se nos pressupostos da abordagem ecológica de cognição e de linguagem (DUQUE, 2017), os relatos foram analisados, visando à identificação dos conceitos evocados pelos sinalizantes. A análise realizada sugere que, para a construção de sentidos de LÍNGUA PORTUGUESA, é preciso evocar uma rede de frames (DUQUE, 2015; 2017) que sustenta a conceptualização de que o aprendizado do português é associado ao estudo assíduo da escrita e das categorias gramaticais, ao treino da oralização, ao uso de recursos criados para aumentar a percepção auditiva e ao apreço à Libras. Além disso, revela que, ao aprenderem português, surdos e ouvintes recorrem a eventos distintos e que, no domínio da comunidade surda, a surdez é perspectivada como um traço identitário.