'Dei uma olhada na playlist': a construção [SN DAR UMA V-DA (SP)] em perspectiva funcional
Predicado complexo. Atenuação. Linguística Funcional Centrada no Uso. Gramática de Construções.
Esta tese toma como objeto de estudo a construção [SN dar uma V-da (SP)], que licencia construtos como “Dei uma olhada na playlist [...]”. Objetivamos analisar aspectos morfossintáticos, semântico-pragmáticos e cognitivos implicados em instâncias dessa construção e explicitar a organização de sua rede hierárquica com base em subesquemas e microconstruções que ela sanciona. Trata-se de uma construção de predicado complexo, em que o núcleo do sintagma verbal é preenchido pelo verbo leve dar e um SN indefinido, cujo núcleo é uma nominalização deverbal com o sufixo –da (dar uma caminhada, por exemplo). A investigação fundamenta-se em pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), contemplando categorias da Gramática de Construções (GC). A pesquisa é de natureza qualitativa com suporte quantitativo. Os dados empíricos analisados advêm de blogs da internet e se caracterizam por ser escritos e informais. Sustentamos a tese de que essa construção carreira o sentido de atenuação e os efeitos decorrentes dessa atenuação variam conforme as propriedades aspectuais presentes na moldura semântica da base verbal da nominalização. Os resultados evidenciam que ocorrências com dar uma V-da podem ter o slot V preenchido por verbos de ação, ação-processo e processo (CHAFE, 1979; BORBA, 2002) e podem apresentar no máximo dois argumentos, representados pelos slots SN e SP. Esses tipos semânticos de verbo são dinâmicos e podem apresentar o potencial aspectual de atividade, accomplishment e achievement. A análise dos dados indica, ainda, uma rede hierárquica composta por três subesquemas, com base nos tipos semânticos de verbos que preenchem o slot V, e sete microconstruções, considerando a configuração aspectual das eventualidades predicadas. Além de noções aspectuais, as ocorrências com dar uma V-da também se relacionam à avaliação subjetiva e a processos subjetivos e intersubjetivos, de negociação de sentidos, via inferência pragmática (invited inference, TRAUGOTT; DASHER, 2002) e cognitivos, como categorização e chunking. Por fim, considerando a língua como um inventário de construções, observamos que a construção com dar uma V-da possui relações de herança múltipla com a construção ditransitiva e com outras construções de predicado complexo com dar (dar um beijo, por exemplo).