Taoísmo e A Mão Esquerda da Escuridão: relações dialógicas entre a filosofia e o romance de Ursula K. Le Guin
A Mão Esquerda da Escuridão. Relações dialógicas. Filosofia. Taoísmo. Ensino.
O presente trabalho tem como objetivo analisar a formação ideológica da personagem protagonista do romance de ficção científica A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin, de modo a compreender em que medida a filosofia chinesa do Taoísmo se manifesta na obra em questão e de modo a poder, então, trazer contribuições ao ensino de literatura e de filosofia. Para tanto, é realizada uma análise dialógica dos discursos da protagonista, principal narradora do romance, para identificar as reverberações de princípios taoístas — quais sejam, neste caso: yin-yang e não ação (inação, wu wei) —, tendo como corpus filosófico o texto milenar fundante do Taoísmo: o Tao Te Ching, de Lao-Tzu. A pesquisa faz uso da abordagem teórico-metodológica de Bakhtin e o Círculo, dispondo de conceitos como discurso, enunciado, heterodiscurso, refração, alteridade e ideologia, viabilizando a análise comparativa por meio do entendimento da filosofia taoísta como uma criação ideológica, como uma ideologia em sua acepção neutra utilizada por Bakhtin e o Círculo — como, primordialmente, um sistema de ideias. A análise expõe um discurso marcado fortemente pelos princípios taoístas do yin-yang e da não ação (wu wei), os quais constituem o romance em suas várias dimensões: estão presentes nas falas do protagonista Genly, nas suas atitudes, ações e não ações (inações), nas suas escolhas lexicais, na forma como estrutura a narrativa romanesca, como sequencia os capítulos, e até mesmo no cenário — além de se manifestar, em especial, na sua relação com a outra personagem principal do romance, Estraven, com quem divide a narração; relação esta que se transforma ao longo da narrativa e representa a integração do protagonista Genly com o outro, com Estraven, a complementaridade dos opostos e a aceitação plena do diferente, a dualidade una do yin-yang.