SOCIAL E INTIMISTA – DOIS VÉRTICES DA NARRATIVA ROMANESCA DE LÚCIO CARDOSO: UM ESTUDO SOBRE OS ROMANCES SALGUEIRO E CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA
Lúcio Cardoso; Romance de 1930; Romance intimista; Narrador; Literatura Brasileira.
Nesta tese, procuramos mostrar dois momentos da produção romanesca de Lúcio Cardoso: a fase social e o estilo intimista. Para delinear esses dois vértices da produção do autor, selecionamos os romances Salgueiro (1935) e Crônica da casa assassinada (1959). O primeiro é abordado como um romance de transição da fase social para o estilo intimista, e o segundo é considerado o ápice da narrativa intimista de Cardoso. No desenvolvimento desta análise, utilizamos como método a concepção dialética entre a literatura e seu contexto de produção, estabelecendo uma relação entre os elementos estético-formais e os sociais, princípios da “crítica integradora” proposta por Antonio Candido (2010b). Inicialmente, fazemos um panorama sobre a vida e obra de Lúcio Cardoso, bem como uma contextualização sobre romance de 1930, mostrando tanto a vertente regionalista, quanto a intimista/psicológica na perspectiva dos críticos literários Luís Bueno (2006), Afrânio Coutinho (2004), Antonio Candido (1989), Wilson Martins (2004), Alfredo Bosi (2006), Massaud Moisés (2004) e Luciana Stegagno Picchio (2004). Em seguida, para análise de Salgueiro, utilizaremos a perspectiva de Luís Bueno (2006), Lúcia Miguel Pereira (1935), Afrânio Coutinho (1995; 2004a), e Rosiane Vieira de Rezende (2007); bem como de Antonio Candido (2010a) e Paulo Franchetti (2012) na comparação entre Salgueiro e O Cortiço, de Aluísio Azevedo, entre os elementos da estética naturalista. Para desenvolver a análise específica de Crônica da casa assassinada, foram utilizados dos conceitos de dialogismo e polifonia propostos por Mikhail Bakhtin (2015b), a noção de “autor implícito”, de Wayne Booth (1980) e a contextualização de Gilberto Freyre (2004) sobre a decadência do patriarcalismo rural brasileiro. Por fim, a vinculação entre a análise de Salgueiro e Crônica da casa assassinada ocorreu através da categoria estrutural do narrador, pois enquanto Salgueiro é narrado em focalização fixa com o uso da onisciência, em Crônica da casa assassinada ocorre a predominância do romance psicológico que é representado esteticamente pelos vários narradores homodiegéticos. Procuramos mostrar como essa mudança no elemento estrutural contribuiu para consolidar o estilo intimista de Lúcio Cardoso por meio da noção de “polimodalidade focal” proposta por Gérard Genette (1979) e comentada por Vitor Manuel de Aguiar e Silva (2009).