A CONFLUÊNCIA DE LINGUAGEM NO GÊNERO “CORDEL”: DO ORAL À ESCRITA
Cordel. Gênero. Oralidade. Fraseologia.
Com base nos pressupostos paradigmáticos das tradições discursivas (cf. KABATEK, 2006; KOCH; OESTERREICHER, 2007), dos estudos sobre a oralidade (cf. ZUMTHOR 1993, 1997, 2000, 2005, 2010; MARCUSCHI, 2008; ONG, 1998; COSERIU, 1983;) e das contribuições interdisciplinares da história, linguagem e cultura (cf. CALVET, 2011; CHARTIER, 2002; BOURDIER, 2007; BHABHA, 2014; CANCLINI, 1989) investiga-se, nesse trabalho, cem cordéis do século passado ao atual, escritos por nordestinos brasileiros, enfatizando neste corpus a reiterabilidade nos critérios de variação e mudança. Apresenta-se, nesse caso, uma análise quantitativa, sob foco interpretativista, exploratório, descritivo e bibliográfico, a presença reiterada das frases fórmulas, proverbiais e de figuras de linguagem mais utilizadas nos textos da tradição oral, buscando responder ao seguinte questionamento: quais são características comuns no texto, em seus aspectos sincrônicos/diacrônicos, que permeiam em todos os folhetos deste gênero? Com o objetivo de identificar na fraseologia o processo de permanência e inovação que mais se repetem nessa literatura, a tese levantada é de que o cordel é, por excelência, um gênero no campo oral, tendo no folheto a representação de seu suporte. Esse estudo mostra um delineamento estrutural genérico, suscitando elementos dessa narrativa poética. Os resultados obtidos neste estudo confirmam para o fato de que, diferentemente de discussões levantadas no país, não há exclusivamente metáforas e provérbios nos textos da literatura de cordel. O estudo da fraseologia aponta (i) incidência significativa de tropos de concentração e de expansão, (ii) frases proverbiais direcionadas, em larga escala, para as súplicas, pedidos e para a religiosidade do sujeito, e (iii) as frases fórmulas, diferentes das metáforas, não sugerem comparação, mas uma cristalização oral nas vozes dos sujeitos. Por meio das análises realizadas, chega-se à constatação de que o cordel é um gênero que tem estratificado seus elementos componenciais definidos e, dessa forma, este fenômeno apresenta uma metafunção textual em que sua estrutura e formato possibilita ir de uma simples leitura solitária às práticas sociais, permitindo a continuidade do texto entre as vozes dos sujeitos.