P2 in the position of verbal complement in personal letters of Rio Grande do Norte of century XX
Brazilian portuguese; personal pronouns; P2; verbal complement; you.
Com base nos pressupostos da Teoria da Variação e Mudança (cf. WEINREICH; LABOV; HERZOG, [1968] 2006; LABOV, [1972] 2008) e da Sociolinguística Histórica (CONDE SILVESTRE, 2007), analisamos 272 (duzentas e setenta e duas) cartas pessoais, escritas ao longo do século XX por brasileiros ilustres e não ilustres, nascidos no estado do Rio Grande do Norte/RN, no nordeste brasileiro. Apresentamos uma análise quantitativa/qualitativa das formas pronominais de segunda pessoa do singular (P2), na posição de complemento verbal, nas funções acusativa, dativa e oblíqua com o objetivo de identificar quais fatores linguísticos e/ou extralinguísticos influenciam o processo de mudança observado no paradigma pronominal Português Brasileiro(PB). Em nossa análise, consideramos alguns prognósticos, apontados por estudos sociolinguísticos realizados nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, os quais evidenciaram a produtividade das formas pronominais te, lhe, você, o/a, contigo, prep.+ ti, prep.+ você, ø(não realização, ou zero) nas funções supracitadas. Esses estudos mostraram também um delineamento dos ambientes morfossintáticos favoráveis ao uso das formas associadas ao você, sendo essas mais recorrentes em contextos com formas verbais imperativas, sujeitos plenos e pronomes complementos preposicionados; sinalizam ainda que há um crescimento do objeto nulo, bem como preferência pelo uso das formas preposicionadas para + ti/você, frente a um decréscimo no uso da preposição introdutória ‘a’. Os resultados obtidos nesta tese confirmam em parte as asserções defendidas por esses estudos: i) significativa produtividade das formas pronominais te/lhe, sendo a primeira associada ao tu e a segunda ao você; ii) uso expressivo das formas associadas ao pronome inovador você, notadamente em construções do tipo: Suj+V+OD+OI, Suj+V+OI, Suj+V+OBL, ou seja, em construções com complementos preposicionados; iii) resistência das formas de tu no contexto com pronome complemento não preposicionado; iii) produtividade no uso das formas de você, com taxas superior a 50% (63.8% - 385/603), em construções com objeto lexicalmente preenchido, contrastando os prognósticos apresentados em estudos anteriores; iv) ratificação do prognóstico já apresentado por Moura (2013) no que diz respeito a preferência dos escreventes norte-rio-grandenses por formas associadas ao você, desde as primeiras décadas do século XX (1916), independente do status social do escrevente e com maior recorrência em todas as partes da carta; v) favorecimento ao uso de construções prep. + a, função dativa, sinalizando, aparentemente, certo conservadorismo por parte dos escreventes, uma vez que o esperado, conforme resultados dos estudos anteriores, seria a preferência por construções inovadoras do tipo prep.+ para.