HÁ COISAS EM VOLTA DO TEU PESCOÇO: QUESTÕES DE GÊNERO EM CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Literatura Africana; Chimamanda Ngozi Adichie; teorias feministas; contos nigerianos.
A literatura africana, em sua poeticidade insubmissa, tem proporcionado abertura de espaços nos quais a configuração heterogênea dos países africanos estabelece as bases propícias para uma reflexão crítica do papel da literatura no mundo contemporâneo. A literatura escrita por mulheres emerge a partir das desleituras dos sujeitos subalternos silenciados, em um movimento que ressalta a especificidade subjetiva, ao passo que intensifica a desconstrução promovida pela produção artística periférica. Localizando nesse contexto a criação literária das mulheres africanas, evidencia-se o questionamento aos aparatos opressivos, diante da escrita que reúne tradição ancestral e herança colonial no labirinto das negociações culturais fundantes. Em meio a uma nova ordem mundial, na qual os direitos humanos estão sendo a cada dia oprimidos, silenciados, voltamo-nos à voz feminina articulada pelo texto literário de Chimamanda Ngozi Adichie. Em um território marcado pela violência e pelo machismo, a jovem escritora nigeriana avulta uma crítica incisiva à subalternidade do sujeito feminino na literatura. Por meio de um discurso que traduz aspectos da cultura nigeriana e americana, Adichie contesta a condição opressiva imposta à mulher pelo poder hegemônico masculinizado. Em virtude da multiplicidade observada na caracterização da mulher nigeriana, em poética embebida de sinestesias, apresenta-se uma análise da coletânea de contos A coisa à volta do teu pescoço (2012), ao se abordar as problemáticas que incidem nas personagens. Considera-se para isso uma conjuntura histórica e cultural que revela na forma de contar o anseio de as mulheres protagonizarem um destino histórico de silenciamento. Nessa perspectiva, inqueriu-se sobre os papéis de gênero e os elementos interseccionais – como raça, classe, discurso, poder, instâncias culturais – que traduzem um diálogo trans-semiótico com as questões de gênero. Ao se trabalhar com conceitos culturais inacabados, constata-se que a transgressão dos lugares opressivos reservados à mulher nigeriana ainda são mínimos. Observou-se também como a formação de uma consciência crítica que permita uma revisão da situação de violência e exclusão da mulher ainda é um grande desafio no início do século XXI. Como base para as considerações, seguiu-se pelos caminhos das teorias literárias de cunho feminista de acordo com as reflexões de Gayatri Chakravorty Spivak (2014), Angela Y. Davis (2016) e Chimamanda Ngozi Adichie (2015), esta última, no que concerne ao seu pensar acerca da cultura, unindo consciência política ao trabalho estético.