OS LEÕES DE KULUMANI: Patriarcalismo em A confissão da leoa de Mia Couto
Literatura Africana; Mia Couto; A confissão da leoa; Patriarcalismo
O romance A Confissão da leoa (2012), de Mia Couto, discorre sobre ataques de leões que aterrorizam Kulumani, uma aldeia moçambicana, os quais têm vitimado, principalmente, mulheres. No entanto, a narrativa não é uma história de caçadas, uma vez que o autor utiliza os leões como metáfora para denunciar os discursos de poder que regem aquela sociedade e que se refletem, sobretudo, na vida das mulheres. Violência, amor, silêncio, resistência, submissão, luta, invisibilidade, subversão, são alguns dos elementos que constituem as personagens femininas desta obra, personagens que nos levam a refletir sobre a realidade de muitas mulheres africanas. Muitas delas têm suas vidas marcadas pela opressão, pela violência inerente ao sistema patriarcal, responsável por uma série de mecanismos que inferiorizam as mulheres e violenta seus corpos. A partir dos pressupostos da crítica feminista e de obras como, A unidade cultural da África negra: esferas do patriarcado e do matriarcado na Antiguidade Clássica (2014), de Cheikh Anta Diop, Dicionário de Crítica Feminista (2005), de Ana Gabriela Macedo e Ana Luísa Amaral, Um amor conquistado: o mito do amor materno (1984), de Elizabeth Badinter, Eu, mulher (2013), de Paulina Chiziane, Teoria Feminista e as Filosofias do Homem (1995), de Andrea Nye entre outros, esse trabalho busca discutir o patriarcalismo e a construção das personagens do romance e também como se configuram dentro desse sistema. A leitura, a partir de pressupostos teóricos da crítica literária feminista, possibilita a análise e a investigação do discurso patriarcal, cuja universalidade e a perpetuação através dos tempos fazem com que esse se imponha como natural. O romance de Mia Couto utiliza a história de caçada aos leões como alegoria para denunciar o verdadeiro assassino das mulheres de Kulumani: o patriarcalismo.