Cartografias da metaficção paródica em O Xangô de Baker Street: “conhece os meus métodos”
Cartografia, metaficção paródica, fabulação, espaço literário, escrita intransitiva, Jô Soares, Miguel Faria Júnior, O Xangô de Baker Street.
A proposta desta tese é a de apresentar cartografias da metaficção paródica no romance O Xangô de Baker Street (1995), de Jô Soares, e no filme homônimo (2001), de Miguel Faria Júnior. Estas obras, estando para além de meras reproduções, apontam para suas próprias constituições, pondo em cena o que escapa aos discursos que são trazidos à ficcionalidade. Sendo monumentos artísticos que não se sustentam em outras coisas a não ser neles mesmos, elas maquinam suas próprias produções, desterritorializando o que possa dar margens a narrações verídicas. Trata-se de escritas autopoiéticas intransitivas que no espaço literário e cinematográfico suspendem a palavra, deixando-a sem os entraves de ordens discursivas, dando visibilidades outras a travessias que se operam na esteia de imagens que são criadas. Dessa maneira, objetiva-se analisar como se desenvolve nestas obras escritas que, acontecendo no deslizamento da significação, se voltam para as próprias narrações, apontando para mundos possíveis que se sustentam. A pesquisa é estabelecida a partir de leituras que tratam, sobretudo, da escrita autopoiética, do humor enquanto arte das superfícies, bem como da fabulação de mundos por vir que se projetam, fazendo uso de conceitos da filosofia da diferença em Deleuze e Guattari e da crítica literária, principalmente, em Blanchot e Barthes tais como máquina autopoiética, humor, fabulação, espaço literário e escrita intransitiva. Ao apontar para suas próprias constituições, o romance de Jô Soares e sua adaptação para o cinema trazem a metaficcionalidade intensivamente para seus planos de composição pelo parodiar de elementos recorrentes às narrativas policiais doylianas e de discursos logocêntricos e etnocêntricos estigmatizadores. O que acontece nos planos de composição não se encontra em tecidos narrativos que busquem delinear sentidos. Nas superfícies da escrita, toda uma criação que se encaminha para aventuras do detetive que descobre pelo olhar perspectivado não se torna realidade ficcional. No romance de Jô Soares e na sua adaptação para o cinema vários mundos se insinuam no espaço da escrita. São virtualidades que, transpondo afecções e percepções do vivido, se projetam em devires e paisagens não humanas num Brasil que faz de conta que é europeu.