DO DISCURSO DA RESISTÊNCIA À RESISTÊNCIA DO DISCURSO: as construções identitárias de Mossoró nos enunciados da literatura de cordel
Enunciados cordelísticos. Resistência. Vozes sociais. Cronotopia. Identidades.
Este estudo tem por objetivo investigar as construções identitárias de Mossoró, nos enunciados da literatura de cordel. Tendo como fio condutor o episódio da resistência citadina ao bando de Lampião no dia treze de junho de mil novecentos e vinte e sete, a nossa empiria constituiu-se dos enunciados presentes em nove cordéis, produzidos entre o espaço-tempo de 1927 e 2007, ano em que a cidade comemorou oitenta anos do episódio. Ciente de que o tema extrapolou os limites dos meios comunicacionais da época e passou a integrar o cotidiano dos mossoroenses, produzindo na memória coletiva a imagem de uma cidade da resistência em nomes de ruas, nomes de empresas, nas rádios com a “FM resistência”, nos discursos políticos, na sede da prefeitura cujo nome é “Palácio da Resistência”, a questão central que orienta nossa investigação congrega a discussão em torno das relações dialógicas travadas nos enunciados sobre o tema em tela. Em assim sendo, estabelecemos como objetivos, primeiro, investigar as vozes sociais que ecoam no discurso cordelístico sobre o acontecimento de vinte e sete na cidade de Mossoró; em segundo lugar, procuramos identificar os posicionamentos assumidos sobre o episódio e, finalmente, nos preocupamos em discutir, a partir das posições presentes nos enunciados analisados como é ressignificada a identidade da cidade. Nesse viés, a pesquisa elegeu como categorias de análise o conceito de vozes sociais e cronotopia, considerando que as diferentes identidades são produzidas em função dos posicionamentos tomados pelos sujeitos, bem como, pelos contextos de produção. Inscrita na área da Linguística Aplicada (LA), a pesquisa articula as teorizações provindas da área dos Estudos Culturais (sobretudo no que se refere à identidade) com os referenciais teóricos do Círculo bakhtiniano (no tocante a concepção sócio-histórica da linguagem e em seu caráter dialógico). Os resultados indicam que, apesar de haver uma movência axiológica em torno das representações de Mossoró e do episódio de vinte e sete, os enunciados dos cordéis convergem para o discurso hegemônico, corroborando com o perfil identitário da resistência veiculado ao longo de oito décadas.