O SER ELÁSTICO, MOLA, AGULHA, TREPIDAÇÃO: EXPRESSÕES DO HOMOEROTISMO EM FERNANDO PESSOA
Poesia; Homoerotismo; Performance; Queer; Corpo sem Órgãos.
Esta dissertação investiga e analisa as expressões do homoerotismo na poesia Fernando Pessoa e de seus principais heterônimos: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Elaborando estratégias de fingimento como uma forma de escapar às injúrias e interdições, o poeta – através de linhas de fuga criadoras – constitui uma poética homoerótica, diferente dos padrões estabelecidos e dos modelos representacionais da literatura. Nós podemos encontrar, tendo em vista uma sexualidade problematizada, que transborda na multiplicidade dos eus, das identidades fluidas e de fronteiras móveis, intensos jogos de máscaras. Estas se corporificam nos poemas, sobretudo, por meio das sensações, dando lugar à possibilidade do discurso queer e homoerótico emergir. O homoerotismo pessoano é, assim, descortinado em meio às relações estéticas da amizade, dos espaços lisos, das heterotopias da cidade, ou espaços do outro, e da estética do armário. Partindo disso, percebemos as articulações de um gênero de performance como escritura e inscrição do corpo, estabelecendo uma escrita-física, que pontua uma sexualidade transgressora, com múltiplas entradas e saídas, afirmações e negações, instauradoras de paradoxos. Neste âmbito, desenvolvemos correlações entre concepções de Foucault (2010a, 2010b, 2011) sobre a história da sexualidade, amizade e relações de “poder-saber”, com traços de significância e de subjetivação, em processos de rostidade e CsO (Corpo-sem-Órgãos), em Deleuze e Guattari (1996). Consideramos, ainda, os questionamentos ontológicos, voltados para a dimensão “Gay”, em Eribon (2008) e levantamos aspectos a respeito da construção da ideia de masculinidade em Bourdieu (2010). Finalmente, apoiamo-nos na abordagem da epistemologia do armário, de Sedgwick (1993), como na teoria de gênero e performance de Butler (2012), encaminhando, além disso passagens pelo erotismo, de Bataille (1987), redimensionadoras das imagens homoafetivas do poeta português.