A MEDICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO INICIAL DO PEDAGOGO
Medicalização na Educação. Psicologia Histórico-Cultural. Formação Inicial. Pedagogia.
O processo de medicalização consiste na transformação de questões sociais, políticas e culturais, complexas e multifatoriais, em doenças sob um determinismo biológico que, na Educação, atinge crianças e adolescentes que não se encaixam em padrões de normalidade aplicados ao aprendizado. Estudos apontam que os professores não conhecem esse fenômeno, então, a aprendizagem de conceitos científicos sobre o mesmo pode promover essa informação, a compreensão do seu papel no seu enfrentamento e a elaboração de práticas pedagógicas nessa direção. Nesta perspectiva, tendo em vista a formação inicial de pedagogos em curso presencial de uma universidade pública de Natal/RN e o referencial teórico da Psicologia Histórico-Cultural, essa pesquisa teve como objetivo desenvolver e analisar mediações pedagógicas no processo de aprendizagem do conceito de medicalização na Educação com estudantes de Pedagogia. Para isso foi realizado um experimento formativo baseado na proposta de Davydov, entre agosto e dezembro de 2016, com turma de 25 estudantes do sexto período noturno. O experimento foi desenvolvido em 16 aulas semanais, distribuídas em três etapas, precedidas do levantamento sobre o conhecimento detido a respeito da medicalização e, posteriormente, mais quatro trabalhos escritos. O planejamento das mediações pedagógicas se baseou na seguinte hierarquia conceitual elaborada para abordar o conceito científico medicalização na Educação: relação entre escola e sociedade, função social da escola e do pedagogo, saúde, doença, normatização da sociedade, determinismo biológico, brincar, medicalização da vida, tendo em vista o resgate histórico das mudanças sociais e nas formas de produção, que influenciaram aspectos políticos, econômicos, a ciência, saúde e Educação. Na primeira etapa foram desenvolvidas atividades para trabalhar os conceitos função social da escola, do pedagogo e relação entre sociedade e escola. Na segunda etapa o conceito brincar foi trabalhado em dois momentos: o primeiro objetivou resgatar memórias da infância e a vivência lúdica; no segundo, os estudantes realizaram propostas de intervenção em escolas tendo como base o brincar. Na terceira etapa houve a apresentação aos conceitos saúde, doença, normatização da sociedade, determinismo biológico e medicalização da vida, além de dados sobre consumo de medicamentos. Foram selecionados sete estudantes para a análise dos registros escritos, dentre eles, cinco não apresentaram nenhum conceito relacionado à medicalização no diagnóstico inicial e os outros dois elaboraram pseudoconceitos. Observou-se que nem todos conseguiram estruturar a hierarquia conceitual abordada, mas houve avanço na aprendizagem conceitual e apreensão de determinantes da medicalização. Os estudantes compreenderam que a sociedade atual, baseada no capitalismo, ao definir que só criança brinca, ao racionalizar e disciplinar o comportamento, mecaniza, normatiza e desumaniza os sujeitos, atingindo o pedagogo que busca elaborar práticas pedagógicas disciplinadoras e não que desenvolvam o aprendizado e a criatividade. Como consequência, aos alunos que fracassam na escola, são atribuídas doenças para serem tratadas por via medicamentosa com influência da indústria farmacêutica. Conclui-se que o experimento formativo possibilitou mediações que promoveram mudanças psíquicas, qualificaram processos de pensamento para a aprendizagem conceitual sobre medicalização na Educação e contribuíram com a identificação de possibilidades de enfrentamento ao fenômeno, sendo que o brincar foi apontado como opção.