A RELAÇÃO ENTRE ORIENTAÇÃO SEXUAL DAS PESSOAS ADULTAS E O MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA PREVALÊNCIA DE OCUPAÇÃO, FATORES ASSOCIADOS, DIFERENCIAIS POR RENDA E INTERSECCIONALIDADE DE SEXO E RAÇA/COR
Orientação sexual; Mercado de Trabalho; Interseccionalidade; Renda.
Apesar dos avanços sociais e institucionais em defesa da diversidade sexual e de gênero no Brasil, nos últimos anos, vivenciamos o fortalecimento de discursos de ódio, a reprodução de “valores” conservadores, práticas discriminatórias e preconceituosas. Nessa conjuntura, observa-se que as desigualdades estruturais que permanecem latentes na nossa sociedade, com a sobreposição de marcadores da diferença, podem gerar múltiplas iniquidades no mercado de trabalho, especialmente quando atreladas à orientação sexual das pessoas. Com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, a presente tese tem como objetivo principal analisar a prevalência de ocupação e os fatores associados em pessoas adultas (com 18 anos ou mais) selecionadas para responder o quesito orientação sexual, considerando também possíveis diferenciais por renda e pela interseccionalidade de sexo e raça/cor. Para obter as estimativas da prevalência de ocupação foram utilizados modelos de Regressão de Poisson com variância robusta. Os resultados evidenciaram que as chances de ocupação no mercado de trabalho brasileiro reduzem para as pessoas que se declararam como homossexuais, bissexuais, com outra orientação, que não sabiam e para as que se recusaram a responder, quando comparadas às pessoas heterossexuais. Nos modelos por renda, as estimativas mostram que as chances de ocupação são menores para as pessoas que não responderam heterossexual, independente da faixa de renda domiciliar per capita. Por sua vez, pela interseccionalidade de sexo e raça/cor foi possível identificar que, enquanto o fato de ser homossexual reduz as chances de ocupação para o homem independentemente da sua raça/cor, para as mulheres homossexuais brancas e não brancas as chances de estarem ocupadas aumentam. No entanto, para as pessoas bissexuais, com outra orientação sexual, que não sabiam e as que se recusaram a responder, os achados evidenciam redução nas chances de ocupação, independente da intersecção de sexo e raça/cor. O mercado de trabalho ainda constitui um ambiente bastante influenciado por normas e “valores” conservadores, provavelmente as menores chances de ocupação para as pessoas com orientações não normativas ocorrem devido ao efeito da discriminação.